quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Livros

Links dos meus livros, postados no orkut... eu pensei em postar aqui também, mas acho que ficaria meio confuso ^^"


Forbidden Fruit, escrito em conjunto com Luciana Fernandes
Contos de Fadas e Castelos
Jovens Bruxas

The Wedding

The Wedding
Estava tudo absolutamente pronto para o lindo casamento da minha melhor amiga Lucy.A saudade que eu tinha dela apertava o meu coração, mas saber de sua alegria, e participar efetivamente para a realização do seu sonho, ajudava em muito. A decoração já estava contratada, a banda, o local da recepção, o juiz de paz. Faltava apenas eu contar a Jeremy que Lucy ia casar. Tentei fazer isso da forma mais casual que me foi possível Quero dizer, por mais que ele fosse um playboy arrogante, sacana e sem coração e eu quisesse que ele sofresse, Jeremy ainda era o melhor amigo de Caio, meu namorado. Algo que eu nunca entendi bem, porque o que Caio tem de fofo, Jeremy tem de cretino.
Eles estavam todos reunidos, como sempre, numa das praças da cidade. Eu tinha acabado de pegar o pacote volumoso no correio, e decidi que aquela seria uma hora tão boa quanto qualquer outra para contar.
Caio estava sentado com eles me esperando. Jeremy estava sendo abraçado por Camille, a garota pela qual ele trocara Lucy, mas não parecia exatamente contente com os carinhos invasivos e melosos dela. Dei um oi geral, um rápido selinho em Caio e abri o meu pacote.
Eram os convites para o casamento, personalizados e lindos em papel filigranado cor champagne e belas letras rebuscadas em prateado. Uma foto de Lucy e Jake ocupava a parte de dentro de cada um deles, enquanto o exterior era enfeitado com suas iniciais e o nome do convidado, escrito a mão. Separei aqueles que se dirigiam as pessoas que estavam ali, enquanto todos me olhavam estranhamente.
- Caio. – Estendi o dele, e ele ficou admirando o C tão belamente desenhado antes de abrir. Caio, como namorado da melhor amiga da noiva, já sabia do casamento. Os outros, ainda não.
Lucy tinha se mudado para longe, depois da decepção que Jeremy lhe dera. E ela já conhecia Jake. Fora fácil, para ela, se apaixonar por ele. Ela já era meio apaixonada antes mesmo deles se virem pessoalmente pela primeira vez.Eles haviam se conhecido na internet, ficado amigos, e então as coisas simplesmente aconteceram quando ela se mudou pra cidade dele para fazer faculdade. Num segundo começaram a namorar, no seguinte moravam juntos. Isso fazia uns 5 meses.
-Jeremy. –disse sem emoção. Ele merecia, se o fizesse sofrer. Se não fizesse... eu tinha certeza de que Lucy não mais ligaria.
- Mas o que é... – Então vi seu rosto se abrir em choque.

Eu esperava tudo ao abrir aquele belo envelope maldito, que Cass tão prontamente entregou a mim.
- Lucy e Jacob convidam você a participar da cerimônia de seu casamento, a ser realizada no coreto da praça central, as 20:00 horas do dia 15 de abril de 2010. – Eu ouvi Bernard lendo em voz alta. Eu só... não podia acreditar naquilo.
- Isso é serio? – Perguntei diretamente á Cass, enquanto Camille ficava observando a foto no convite. Eu pura e simplesmente me negava a olhar novamente aquela odiosa imagem, de Lucy sorrindo, apaixonada, para o rosto ainda mais sorridente do seu, pausa para o vomito, noivo.
- Claro. – Cass me disse com a maior calma do mundo.
- Ela só tem 18 anos, pelo amor de Deus. – Eu não podia acreditar. – Ela esta grávida? – perguntei em pânico. O enjôo em meu estomago aumentando absurdamente.
- Deus, é claro que não. Eles moram juntos praticamente desde que ela se mudou, de qualquer forma. Já são teoricamente casados.
- Eles moram juntos?!
Jeremy parecia pronto pra matar alguém, de tão nervoso que ficou quando Cassandra disse aquilo. Garota chata e implicante, a Cassandra. Sempre fazendo piadinhas irônicas sobre mim ou sobre o meu namoro (*-*) com Jeremy. Só por que a mala da amiga dela não conseguiu prender um cara tão super lindo como ele, e só por que o Caio na verdade é gay e ta com ela só por fachada... Mal amada, é o que ela é. E daí se eu sou apaixonada por HSM e Rebelde e uso só rosa? O que ela tem contra isso? Estou só na moda queridinha, enquanto ela fica usando aquelas roupas indie esquisitas dela. Alias, como a vaca da Lucy. Não que eu conheça esse encosto, Deus me livre. Só vi ela uma ou duas vezes, antes de pegar o meu Jeremy (*-*) pra mim. Ele sempre foi homem demais pra ela. O pescoço de Jeremy ficou muito vermelho de um jeito bem esquisito, e uma veia pulsava de um jeito assustador. Levei a mão para encostar nele, mas Jeremy me repeliu com um tapa leve e descuidado.
- É claro. Por que não morariam? Ele morava sozinho, ela precisava de um lugar pra ficar... – Cass fez um gesto vago com a mão, um sorriso de escárnio pregado no rosto. – E se amam. Nada mais obvio.
Jeremy resmungou e se sentou de novo, olhando pro chão. E por mais que eu fizesse, não consegui fazê-lo realmente prestar atenção em mim depois daquilo.

E foi assim que eu me vi, meras duas semanas depois, metido num terno alugado, preto, com Camille, adorável num vestido verde e curto de cetim, saltitando agarrada no meu braço. Eu estava no piloto automático naquele dia. O coreto ficara ainda mais bonito enfeitado com o que pareciam ser milhões de rosas brancas e vermelhas e quilômetros de renda branca. Os arranjos altos eram compostos por uma profusão de botões brancos e somente uma rosa vermelha aberta no centro. O noivo já estava lá quando eu cheguei, praticamente o ultimo convidado a sentar.
O alto, forte, e sorridente Jake, a quem eu nunca vira mas por quem nutria um ódio cego e mortal. É claro que eu sabia que tudo fora minha culpa. Eu havia hesitado com ela, com a única garota que importava, e brincado com os seus sentimentos. Não que eu tivesse certeza de que Lucy realmente nutria algum por mim, mas eu devia ter lutado por ela. Permanecido com ela. Feito ela me amar. Mas eu fui burro e idiota, e agora eu deveria vê-la caminhar pelo chão coberto de pétalas de rosas para encontrar o seu noivo.
Os músicos vestidos de fraque começaram a tocar a valsa nupcial, brilhantemente bem. Eu vi o sorriso de Jacob se abrir ainda mais, e as suas mãos pararam de se torcer uma na outra. A mãe de Lucy, num dos cantos do coreto, enxugou uma lagrima com cuidado, para não estragar a sua cuidadosa maquiagem. Ela nunca gostou de mim, e parecia mais que satisfeita ao se virar para o futuro genro e sorrir. Mas Jake não olhava para ela. Só tinha olhos para a frente, para o único lugar onde eu não tinha coragem de olhar. Cass e Caio também estavam no coreto, junto com um outro casal que eu não conhecia. Os padrinhos. Cass parecia imensamente orgulhosa, Caio apenas chocado. Juntei toda a coragem que me restava e me virei para olhar ela.
Lucy caminhava muito, muito devagar em direção ao seu futuro. As duas pequenas garotinhas vestidas como miniaturas de princesas pareciam flutuar a sua frente, espelhando pétalas. Mas quem roubava a cena era Lucy.
Eu nunca tinha visto nada tão bonito, e acho que jamais voltarei a ver. Ela estava... a única palavra que me ocorre é deslumbrante. O seu cabelo dourado, muito habilmente penteado em cachos que formavam uma moldura perfeita para o rosto, que só podia ser descrito como luminoso. O vestido, uma obra prima branca com longas mangas de rendas que se abriam em mais de um metro de tecido em seus punhos finos, se colava em seu busto e na cintura fina que eu tantas vezes rodeei negligentemente com os braços, para depois se abrir numa nuvem de tecido branco. O véu, muito, muito longo, saia da grinalda que brilhava em meio aquela profusão de cachos e se arrastava pelo chão até onde dois menininhos o levantavam.
Mas na verdade o que a fazia linda era a absoluta certeza e felicidade em seu rosto, muito mais do que um belo vestido ou um bom penteado. Ela estava feliz, de um jeito que chegava a enojar. Ela sorria tanto que parecia que seu rosto lindo se partiria em dois a qualquer segundo. E pensar que aquele sorriso poderia ser meu. Que ela olharia para mim no fim do seu caminho de flores com todo aquele amor transbordando. Que ela acordaria ao meu lado todas as manhãs, espalhando aquela alegria contente que era tão sua. O maior arrependimento da minha vida caminhava lentamente para pertencer á outro homem, e eu não podia fazer nada além de olhá-la. E me sentir miserável.
Não sei se ela me viu naquela noite luminosa e florida, na noite mais bela da sua vida. Na noite em que só podia ver aquele enorme sorriso cheio de dentes de Jake. Ele, com toda a certeza me viu. Eu permaneci lá, duramente, enquanto ela fazia os votos, cada palavra como um chicote sobre mim. E quando eles se beijarem, senti como se algo se rompesse dentro de meu peito, escorrendo algo viscoso e doentio enquanto o resto do mundo aplaudia aquele amor amaldiçoado por mim. Quando eles se viraram para receber os comprimentos, o olhar de Jake encontrou o meu por um momento. A sua expressão perdeu o grande sorriso e ficou feroz por um único instante, antes de se abrir novamente num sorriso presunçoso, e ele apertou-a contra si. O olhar e o sorriso me diziam o que não parava de gritar e brilhar em letras de neon vermelho na minha mente. Ela é minha. Você perdeu.
O maior arrependimento da minha vida.
Eu vi Jeremy olhando para mim na noite do casamento, e meu coração deu um salto. Pela primeira vez desde que Jake tinha me pedido para ser sua esposa eu duvidei da minha escolha. Ele estava lá, todo lindo e transviado no terno, com o cabelo bagunçado e os pircings brilhando na luz indireta da decoração. Meu coração falhou um batimento ao lembrar da sensação gelada do metal do pircing em seus lábios no meio do beijo e do quanto o cheiro dele era bom e de quanto o seu cabelo era macio e o quanto seu corpo era forte.
Então eu vi a menina dele grudada em seu braço. E olhei para Jake no altar. Tão certo, tão seguro, tão doce e adorável. Tão amado. Senti que meu sorriso aumentava só em olhar para ele, e vi que não havia mais nenhuma duvida.
Entre aquele te ama, que te valoriza e respeita, aquele que te leva café na cama todas as manhas, que espera o seu tempo e te pede em casamento, e o que trocou você por uma criança, que te deixava horas esperando sem nem avisar enquanto ficava de papo com os amigos, aquele que te traia e te deixava chorando noite após noite, qual você escolheria?
Entre o menino e o homem, eu fiquei com o homem. E caminhei lenta, mas segura, na direção do cara certo.

Triangulo?!

Triangulo?!


Resumo:
Eu era uma princesa, era o que o meu pai sempre dizia. E Aidan e Thomas eram os meus príncipes prometidos. Tudo o que eu teria de fazer algum dia era escolher entre os dois. Mas e se eu não conseguisse? E se eu quisesse os dois? E se, ainda pior, eles resolvessem que o conto de fadas não precisava de uma princesa para atrapalhar o namoro dos príncipes? O triangulo teria de se transformar num par, mas e se fosse eu que eles deixassem de fora?
Prólogo
Varsonsville, há cinco anos.
- Verdade ou conseqüência, Marion? – Aidan me perguntou muito serio.
Ele é um garoto bonito, como um anjo de cachos marrons e olhos doces. Ele sempre foi bonito, mas eu comecei a reparar nisso há muito pouco tempo. Antes era apenas um rotulo que davam a ele. Aidan era o “anjo”, eu era a “princesa” e Tommy era o “cavalheiro”.
Mas de repente agora Aidan vivia rodeado de meninas por todos os lados, todas as garotas querendo uma chance de falar com ele.
Isso deixava Tommy muito irritado.
Nós estávamos na nossa casa da arvore, que ficava exatamente entre as nossas três casas de verdade. Os nossos quartos dão para a arvore, e nós mesmos construímos a casa.
- Conseqüência. – Eu disse, muito corajosamente. Aidan me abriu um sorriso torto. Suspirei. Mais uma vez eu tinha caído na sua armadilha e feito exatamente o que ele queria que eu fizesse.
- Eu te desafio a beijar Tommy e eu. – Tommy olhou pra ele com os enormes olhos azuis ainda maiores no seu rosto magro e sardento.
- QUE?! – ele berrou, ao mesmo tempo em que eu. Nós dois encaramos Aidan como se ele tivesse ficado louco. Ele devia ter ficado, de qualquer forma.
- Ora, vamos lá gente! Nós vamos ter que beijar alguém qualquer hora. – Esse era um ponto valido, eu considerei, já que nenhum de nós nunca tinha beijado ninguém. – Não é melhor que seja alguém em quem a gente confie? E Tommy, você não quer que qualquer sapo acabe sendo o primeiro beijo da Princesa, não é? É melhor que sejamos nós.
Tommy balançou a cabeça, concordando, os olhos ainda arregalados. Aidan sorriu para ele.
- Mas qual dos dois eu iria beijar primeiro? – Perguntei.
- Os dois. – Aidan mais uma vez me abriu o seu sorriso.
- Aidan. – Eu disse naquele tom que a minha mãe usa pra explicar coisas que ela acha muito obvias, mas que eu não consigo entender muito bem. – Eu não posso beijar vocês dois ao mesmo tempo. - Claro que pode.
- Aidan…- Tommy disse, em meia voz. Nós dois olhamos para ele. Ele estava super vermelho, as sardas se destacando vivamente no seu rosto. Pobre Thomas.
- Vamos lá Tommy, é só um beijo. Ninguém precisa ficar sabendo, nunca.
Tommy olhou pra mim em duvida, e eu, quase sem perceber, concordei com a cabeça. Os dois se aproximaram de mim sobre as almofadas da nossa minúscula casa na arvore, muito devagar. Pararam quando os nossos joelhos se encostaram, cada um de nós o vértice daquele triangulo estranho. Então, ainda mais lentamente, nos inclinamos para frente, até que nossos jovens lábios se encostaram. E apenas ficamos lá parados, encostando as nossas três bocas num ângulo esquisito. Eu podia sentir que os lábios de Aidan eram mais cheios, e os de Tommy eram mais frios. Ficamos com os olhos abertos, nos encarando mudamente.
Aidan se afastou alguns centímetros, balançando a cabeça.
- Nós não estamos fazendo certo.
Isso era obvio.
- Acho que temos que abrir a boca, nos mexer, vocês sabem. Como os pais fazem. – Tommy opinou, morrendo de vergonha.
Certo, então eu tinha que fazer como a minha mãe? Me lembrar da minha mãe naquela hora com certeza não foi uma boa idéia, mas eu tentei mesmo assim.
Aidan se aproximou de novo, e dessa vez todos nós abrimos a boca. Era gostoso de um jeito muito esquisito, mas era gostoso mesmo assim. Eu fechei os olhos como a minha mãe fazia, e pousei uma mão em cada nuca. Aidan foi o primeiro a usar a língua, como nós sabíamos que devíamos fazer, logo sendo seguido entusiasticamente por mim, e de modo mais hesitante por Tommy. Era estranhamente maravilhoso sentir a boca daqueles dois garotos tão amados na minha, ao mesmo tempo. O beijo passou de hesitante a carinhoso, e as línguas se entrelaçavam, e era... apenas bom. Quando nos afastamos, Tommy ainda parecia envergonhado, mas Aidan estava vitorioso. Eu só me sentia ansiosa para recomeçarmos.
Vansorsville, hoje.
Nós criamos um monstro, naquela tarde. Um monstro que lentamente nos engoliu.
Eu estava deitada na grama embaixo da nossa arvore, com os olhos fechados e um amplo e leve vestido verde de verão espalhado a minha volta. Sozinha. Eu tenho passado muito tempo sozinha nesse ultimo ano. Desde aquela tarde, Thomas se afastara cada vez mais de mim e Aidan. No começo nós não percebemos, e quando percebemos era tarde demais. Ele ainda falava conosco, mas muito esporadicamente, e sempre parecia desconfortável quando o fazia.
Eu tentei de todas as formas tentar recuperá-lo, mas foi em vão. Eu chorei, pedi a ajuda a sua mãe, mas ele só me ignorou.
Disse apenas que era velho demais pra continuar brincando de casinha comigo e Aidan.
Dois anos depois, o traidor também me abandonou. Virou popular e parou de ter tempo para mim, a artista esquisita da escola. Ele sempre tinha um encontro, um jogo, uma saída com seus novos amigos. Parei de tentar com ele muito mais rápido do que parei de tentar com Thomas. Deixei os dois para trás, mas jamais pude fazer novos amigos.
Ainda via os dois todos os dias na escola, tão bem enturmados, tão falantes.
Tão felizes.
Isso me dava uma mistura agridoce de alegria, pesar e raiva. Como a lembrança daquele nosso beijo também trazia.
Uma sombra pousou sobre mim, tampando o sol que deixava minhas pálpebras vermelhas. Abri os olhos, e me deparei com o Anjo. Ele sorriu para mim, do alto do seu um e noventa, e pareceu ainda mais alto por que eu estava no chão.
- O que você quer? – Eu perguntei, um tanto brusca. Tinha pensado neles a tarde toda, e estava deprimida. Não tinha paciência para os seus joguinhos.
- Ora vamos, Princesa. Está uma tarde bonita demais para tanto mal humor. – A sua voz estava mais grossa, mais grave, e mais cheia de significado do que quando ele tinha doze anos. O meu antigo apelido pareceu ainda mais errado saindo de sua boca naquela nova voz.
- Só o meu pai me chama de Princesa. – Eu lhe apontei, me sentando e abraçando os meus joelhos cobertos pelo tecido verde. Aidan sentou-se ao meu lado, no enorme tronco da nossa arvore, e ficou em silencio por apenas um momento. Silêncios nunca foram a sua maior habilidade.
- Eu costumava chamar você assim, também.
- Costumava, é a palavra chave da frase. – Eu me negava a olhar para ele. Ele me puxou pelo queixo e me obrigou a ver os quentes olhos dele.
- O que você quer de mim? – perguntei, sem saber mais o que dizer. Ele me soltou, e olhou para a grama, quase tão verde quanto o meu vestido, ou meus olhos.
- Não sei. – Ele respondeu simplesmente, dando de ombros. – Apenas te vi aqui sozinha, e senti a sua falta.
- Você não sente a minha falta com freqüência. – Alfinetei, mais por habito do que por querer incomodá-lo. Mas funcionou, mesmo que não fosse a minha intenção.
- Eu sinto, na verdade. Mas você se fechou tanto pra todo mundo que eu tenho medo de chegar perto. – ele atirou de volta, me deixando atordoada.
- E de quem foi a culpa? – gritei de volta, me pondo em pé.
- Já disse que você fica linda quando está com raiva, Marion? – A voz zombeteira de Thomas chegou a mim antes dele, que vinha caminhando calmamente pelo seu jardim.
- Ah não. Eu to indo embora daqui. Vocês dois juntos eu não mereço. – Falei, juntando o tecido do meu vestido numa das mãos, e me virando para sair.
- Pois eu acho que você devia ficar. – Thomas chamou, calma e zombeteiramente. Com certeza ele tinha perdido toda a timidez desde os doze anos. Ele era alto, não tanto quanto Aidan, mas com no mínimo um e oitenta e cinco. Enquanto Aidan fora lindo desde sempre, Thomas adquirira a dele naqueles cinco anos. O cabelo ruivo escurecera para um tom rico de castanho avermelhado que brilhava cheio de reflexos no sol. Seu rosto parecia esculpido em pedra, o queixo quadrado, os malares altos, coroados por olhos azuis-acinzentados gelados, que atraiam as garotas como mel atrai abelhas. Sua beleza era mais agressiva que o rosto perfeito de Aidan, mas não menos impressionante.
- Ah é? E por que isso, Chevalier? – perguntei, com falsa doçura. Sua expressão ficou mais dura quando eu disse o seu antigo apelido. Chevalier, o nosso timido cavaleiro de armadura brilhante, sempre pronto a salvar alguma donzela em perigo, que se transformara num agitador, num garoto problema.
- Esse é um dos motivos. Acho que nós três temos alguns assuntos pendentes. Você não acha, Aidan? – ele não olhava para o nosso velho amigo enquanto falava, no entanto. Eu vi Aidan concordar com a cabeça.
- Vocês combinaram isso? – perguntei, desconfiada. Nós estávamos parados a quase um metro uns dos outros, numa curiosa formação triangular.
- Não. – Aidan respondeu. – Mas Tom... Thomas tem razão.
- Vocês acham que é simplesmente assim. Vocês acham que podem me ignorar por cinco anos e então só voltar e conversar e acham que está tudo bem? Olha, o Thomas ainda tudo bem, todo mundo desconfia que ele usa drogas mesmo, mas você Aidan? Não posso acreditar que entrou numa dessas. Por que só chapados vocês podem pensar que eu vou ficar aqui e conversar como se nada disso tivesse acontecido. – Eu disse a frase toda numa vez, e depois respirei fundo.
- Se ela não quer conversar, então eu vou embora. – Thomas disse, quase alegremente. Aidan virou as costas para nós dois,e encostou a ponta dos dedos na casca da arvore. Bem onde ele encostou, um M era visível, como se fosse uma cicatriz naquele lugar. Ele traçou o M com carinho, e então correu os dedos pelo T que vinha logo depois.
- Vocês se lembram de quando nós fizemos isso? – ele perguntou, se virando para olhar para mim e Thomas. – Nós prometemos que íamos ser amigos para sempre, e que a gente nunca deixaria nada nos separar. E nós dois, Thomas, eu e você, juramos naquela noite, aqui nesse mesmo lugar, que a gente nunca ia deixar ninguém magoar a nossa Princesa. – Ele terminou, encarando Thomas com intensidade. Eu não sabia dessa parte.
- Eu não preciso ser protegida de nada. – Falei, mas a minha voz falhou, por que eu estava emocionada com as suas palavras. Aidan me ignorou solenemente, ainda encarando Thomas.
- Mas nós mesmos magoamos ela, não foi, Tommy? Eu e você, Thomas.
- Não. Eu magoei Marion. – Thomas retrucou, frio e duro. Eu dei um ou dois passos a frente, e então escorreguei lentamente para o chão. O sol aquecia as minhas costas, e eu sabia que devia estar fazendo a minha trança em forma de coroa brilhar dourada. Não adiantava mais tentar fugir ou me fechar de volta na minha concha, por que tudo o que eu queria na vida eram os meus melhores amigos de volta. Aidan voltou a se sentar no tronco da arvore, e Thomas sentou-se no chão como eu.
- Por que vocês fizeram isso? – perguntei, num fio de voz.
- Acho que nós não percebemos, Marion. – Aidan disse, me encarando. Thomas ficou em silencio.
- Mas eu percebi. Eu tentei fazer vocês voltarem, mas vocês não voltaram.
- Princesa... – Aidan começou, mas não parecia saber o que dizer.
- Marion. - falei, mais uma vez apenas por habito.
- Não. Princesa. – Thomas disse com um meio sorriso. – Você está parecendo mais uma princesa hoje do que nunca antes. Se bem que você sempre pareceu. Todo esse cabelo dourado e brilhante como uma coroa, e esses seus olhos verdes como esmeraldas e hipnotizantes e esse seu porte altivo. A beleza. Como uma antiga princesa medieval, não é Aidan?
- Ela sempre pareceu uma princesa. – Aidan concordou, sorrindo.
- Mas eu não preciso mais de cavaleiros e anjos para me protegerem. Eu faço isso sozinha.
- Esse é o problema. Você se protege demais. – Thomas retrucou.
- Eu faço o que tenho de fazer. – Dei de ombros.
- Marion, você realmente quer fazer isso assim tão difícil? Nós já somos quase adultos. Está mais do que na hora de resolvermos isso. Sinto falta de você. E de você também, Tommy.
- Thomas. – Eu e ele dissemos ao mesmo tempo, e rimos sem jeito.
- Lá em cima, então. – Eu disse, apontando para a casa da arvore acima de nossas cabeças. Aidan e Thomas concordaram, e Aidan começou a subir vagarosa e cuidadosamente os degraus de madeira envelhecidos pelo tempo. Thomas ficou embaixo dele, parecendo muito ansioso. Aidan olhou para baixo e nos deu o seu sorriso torto antes de me incentivar com a cabeça para subir também. Encarei Thomas muito seriamente.
- Olhe para o outro lado. – Eu disse, fazendo a minha melhor cara de má. Thomas sorriu maliciosamente.
- E se você cair? Sabe, esses degraus estão tão velhos...- ele respondeu, erguendo as sobrancelhas sugestivamente e ainda sorrindo.
- Só se vire, Tommy. – Retruquei exasperada, segurando uma parte do tecido da saia em uma das mãos e me preparando para subir enquanto ele ria atrás de mim.
Deus, por que fazer isso parecia tão fácil quando eu tinha doze anos?
Cheguei lá em cima meio ofegante, e parei um momento na porta, ouvindo Thomas praguejar enquanto subia atrás de mim. Aidan já ocupava praticamente todo o espaço disponível, e me perguntei por um instante como caberíamos os três ali dentro. O lugar parecia muito maior antes, também. Estava estranhamente limpo e arrumado, livre de poeira ou teias de aranha. Me acomodei num canto, um dos meus joelhos tocando de leve o joelho de Aidan. O único lugar disponível para Thomas era exatamente a nossa frente. Fechando o triangulo.
Olhei em volta, e em seguida interrogativamente para os dois. Aidan também estava observando o lugar, provavelmente com a mesma expressão que eu exibia. Thomas deu de ombros quando olhamos para ele.
- Eu ainda subo aqui, às vezes. – Disse, parecendo envergonhado. Meu joelho tocava o dele, mas ele se remexia para evitar tocar em Aidan.
- Isso bom. – respondi amavelmente, colocando a mão delicadamente sobre seu joelho. – É bom que alguém tenha conservado esse lugar. Ele parecia maior nas minhas lembranças. – Continuei, olhando em volta. Suspirei e voltei a encarar os dois garotos á minha frente. – Vamos parar de enrolar. Foi o beijo, não foi, Tommy?
- Thomas. – os dois corrigiram automaticamente, ao mesmo tempo. Thomas ficou vermelho, e Aidan não disse nada. Tom me encarou por um momento, antes de dizer, disfarçadamente. – Que beijo?
- Você sabe exatamente que beijo. – retruquei, com voz dura. – O nosso primeiro beijo. Foi depois daquele dia que você se afastou de nós.
- Eu não sei do que você está falando. – ele ficava mais vermelho a cada segundo que passava.
- Marion tem razão. – Aidan disse, me surpreendendo. Ele não falara muito, o que também era uma surpresa. – E acho que sei o que aconteceu. Você ficou com vergonha, não foi? – Ele encarou Thomas tão firmemente que este teve que responder ao olhar dele. Seu rosto bonito estava severo e magoado.
- Vergonha? – eu ecoei, confusa. – Por que Thomas teria vergonha de beijar a gen...- foi então que me ocorreu. Thomas e Aidan não haviam beijado apenas a mim naquela tarde. – te. Não nós dois, mas Aidan? – Perguntei, meio sem acreditar.
Thomas desviou o rosto, envergonhado.
- Por que você gostou não foi, Tom? – Atirei, compreendendo. – Do mesmo modo como eu gostei. Você gostou da sensação dos lábios cheios e macios de Aidan tanto quanto eu gostei.
- NÃO FOI SÓ ISSO! – Thomas gritou de repente, e pisquei algumas vezes ao olhar para ele. Ele estava furioso e muito envergonhado. Aidan parecia levemente divertido. Eu me sentia confusa. – Eu gostei, sim, admito ok? Mas eu gostei de beijar você também. Eu não devia ter gostado. Aquilo que nós fizemos foi repugnante e errado. Foi por isso que eu me afastei de vocês, por que me sentia culpado a cada vez que olhava pra vocês e queria fazer aquilo de novo.
- Não considero que tenha sido assim tão terrível. – Aidan disse, pausadamente. – E com certeza não foi repugnante. Nenhum dos outros beijos que já dei sequer se compara aquele, não acha o mesmo, Marion? – ele sorriu pra mim. Não entendi como Aidan podia sorrir tão tranquilamente numa situação como aquela.
Avermelhei também.
Eu nunca tinha beijado outras pessoas além deles. Eu sei, completamente bizarra. Mas eu era a esquisita da escola, lembram-se? Os garotos não caiam como moscas aos meus pés. Ou pelo menos não os que me conheciam.
Tommy olhou para Aidan, entre chocado e com raiva. Aidan sorria pra ele, o seu sorriso de anjo. Ele inclinou levemente o corpo para frente, sua mão indo parar em minhas costas e me pressionando levemente para que eu fosse também. Um milímetro por vez, lentamente, muito lentamente. Thomas começou a imitar o nosso movimento, quase inconscientemente.
Então, levantou-se subitamente, batendo a cabeça no teto baixo.
- Não. – Ele disse, balançando a cabeça e passando a mão onde ela acertara o teto. – Não. – Ele disse de novo, mais auto, com mais certeza. Saiu rápido de lá, se inclinando. Eu observei-o sair, meus olhos verdes se enchendo de lagrimas. Voltei-me para encarar Aidan quando ele pôs a mão sobre o meu braço. Ele me olhava atentamente, o sorriso a muito apagado de seu rosto. Não falei nada, meu coração apertado. Apenas observei seu rosto perfeito, sua pele delicadamente rósea sob o bronzeado, seus cachos castanhos, o poço profundo que eram seus olhos. A curva de seus lábios. Senti uma lagrima quente descer por meu rosto, seguida por outra. Ele levantou a mão do meu braço e passou de leve seus dedos pelo meu rosto, secando-as. Outras seguiram o caminho daquelas, mas ele secou-as novamente.
Sua palma foi parar na curva do meu queixo, seu polegar sobre meus lábios. Eu os entreabri sob seu toque, e ele começou a desenhar o contorno deles, muito levemente. Meu olhar desceu, incontrolável, da prisão de seus olhos para a sua boca. Seus lábios cheios se retorceram num sorriso torto enquanto eu os observava, então olhei para cima novamente. Ele olhava para os meus lábios com quase tanto desejo quanto eu olhara para os dele.
- Minha princesa. – ele disse, sussurrando. – Minha linda e doce Marion. Não chore. – ele continuou, ainda me acariciando. Que? Choro? Como eu poderia pensar em algo além dele, com o mesmo me olhando daquele jeito. Me inclinei para ele, e ele se inclinou para mim.
5 anos.
1826 dias.
43824 horas.
Era o tempo que havia passado entre aquele nosso primeiro desajeitado beijo, até este que acontecia agora. Quando seus lábios tocaram os meus, tão de leve que era quase como se não estivessem ali, algo explodiu no meu intimo. Eu passei as mãos ansiosamente pela sua nuca e colei nossas bocas com mais força. Senti-o sorrir sob meus lábios famintos. Ele puxou-me pela cintura, juntando nossos corpos.
O que começara como um simples tocar de lábios se transformara numa batalha de línguas, dentes e lábios, deliciosa.
Mas parecia que faltava algo. Mesmo ali naquele momento arrebatador, parecia que tinha uma peça fora do nosso quebra-cabeça.
Aidan me deitou no chão poeirento, sem separar-se de mim. Senti a madeira áspera as minhas costas. Era um tanto incomodo, mas nada que me fizesse querer interromper aquele beijo. Bem... possivelmente a pequena casinha poderia cair inteira da arvore que eu não pararia. Aidan, com um joelho de cada lado do meu corpo, começou a espalhar beijos pelo meu rosto. Minhas mãos viajavam por suas costas, seu cabelo fazendo cócegas no meu rosto. Eu ri, toda a tristeza esquecida, quando ele começou a lutar com os grampos do meu cabelo. Ele parou, apoiando os cotovelos no chão, ao lado da minha cabeça. Seus cachos formavam uma cortina que filtrava a luz mortiça que vinha de fora, deixando-o sombreado.
Ele me observava atentamente. Mantive meu sorriso, olhando-o. O tempo pareceu parar, com seus olhos prendendo os meus e seu rosto se aproximando lentamente para me beijar novamente.
- Marion! – eu escutei uma voz alta e feminina chamar meu nome lá em baixo. Aidan sorriu contra meus lábios novamente.
- Você acha que tia Mary vem te procurar aqui em cima? – ele sussurrou no meu ouvido. Sua mão , sobre a minha coxa direita, puxava e amassava o tecido do meu vestido comprido. Minha pele se arrepiou inteira quando ele mordiscou o lóbulo da minha pobre orelha.
- Talvez. – eu disse, quando achei a minha voz. Tentei parecer segura, inutilmente. Aidan sabia exatamente o efeito que me causava.
- Bem. – ele disse, com um suspiro, rolando para o lado. Senti falta de seu corpo sobre o meu quase imediatamente.
Apoiei meu cotovelo no chão e me ergui, meio de lado, para olhar para ele. Imediatamente percebi que ele havia conseguido tirar os grampos do meu cabelo. Senti a minha trança se soltar de onde ela estivera, enrolada em volta da minha cabeça, e bater pesadamente no chão. Aidan sorriu, estendendo a mão para desembaraçá-los. Eu permaneci parada enquanto ele o fazia. O medo de que fosse tudo um sonho e estivesse acabando se alojou no fundo do meu estamago.
Mesmo assim, permaneci parada, prendendo sem perceber até mesmo a minha respiração entrecortada. Lá embaixo, a voz da minha mãe se fez ouvir novamente, agora mais perto.
- Marion!
Aidan se sentou e eu o imitei. O meu cabelo se espalhou como uma cortina dourada sobre os meus ombros, caindo de leve sobre meu rosto. Joguei-o para trás, aproveitando a oportunidade de desviar meus olhos de Aidan.
Mas ele viu meu medo. Aidan sempre via tudo por aquele olhos castanhos e hipinotizantes.
- Não pegue o ônibus da escola amanha. – sua voz ressoou baixa e rouca. Me sobressaltou de leve, pelo silencio que tínhamos feito até então. Por mais humilhante que seja, sim, eu ia pra escola de ônibus, por que ainda não tinha carteira. Ainda.
- Por que não? – perguntei confusa.
- Por que você vai comigo. – ele declarou como se fosse a coisa mais obvia do mundo, sorrindo torto de novo. O frio em meu estomago começou a ganhar vida e criar minúsculas asas se agitando e remexendo lá dentro. Assenti pra ele, e o meu cabelo caiu novamente sobre o meu rosto. Ele sorriu, colocou-o atrás da minha orelha, e me beijou devagar, cuidadosamente, com a mão ainda em meu rosto.
-MARION! – A voz da minha beirava entre a exasperação e a raiva.
- Primeiro você, princesa. – ele me disse, e então eu desci.

Ser a garota de Aidan me dava um status estranho na escola. Eu ainda era a menina esquisita com quem ninguém falava, mas ao mesmo tempo vivia perto dos populares da escola. De repente eu sentava na mesa principal no almoço e era convidada para festas e as garotas pediam minha opinião sobre coisas idiotas como cosméticos e roupas e conselhos amorosos.
A primeira vez que uma delas fez isso, eu passei uns bons cinco minutos olhando inexpressivamente para ela, entre confusa e chocada. Então voltei a encarar o meu prato. Aidan riu ao meu lado, depois do silencio constrangedor, e acho que tudo ficou bem. Sempre que uma pergunta era feita a mim outra pessoa respondia, e eu estava feliz em ignorar todo mundo com meus fones de ouvido.
Naquele primeiro dia, Aidan estava lá, na porta de casa, me esperando, como disse que estaria. As pequenas borboletas em meu estomago se transformaram em periquitos loucos pra alçar vôo. Eu me sentia levemente enjoada, tinha deixado meu café da manha intocado e minha mãe observava-nos pela janela da sala, nada discretamente. Aidan percebeu, e apenas abriu a porta do carro para mim.
Meio quarteirão depois, quando já estávamos fora da vista da minha mãe, ele parou o carro e me beijou, famintamente.
- Bem melhor. – ele disse. – passei a noite toda esperando para fazer isso.
Puxei ele pra mim e beijei-o eu mesma depois disso.
Aidan me ajudou a sair do banco do carro quando chegamos na escola, e segurou firmemente a minha mão.
Eu era, oficialmente, a nova garota dele. Quando a minha hora de almoço bateu , ele estava na porta da minha sala me esperando. Aidan me beijou, com tanto entusiasmo que o Sr. Biggs pigarreou alto ao sair da sala. Ele se separou de mim, mas manteve meu rosto entre suas mãos. Fiquei nas pontas dos pés e lhe dei uma serie de beijos rápidos, então lhe disse que estava com fome. Ele me acompanhou até o meu armário segurando meus livros e abraçou a minha cintura no caminho para o refeitório. As pessoas literalmente paravam para olhar.
Nós ficamos numa mesa menor, num dos cantos. Eu comentei com ele que não estava bem certa de estar segura sobre ser apresentada para os amigos dele que me odiaram a vida toda. Ele resmungou algo e deu um puxão de leve na minha trança comprida, mas concordou. Era uma mania de criança que ele tinha de puxar o meu cabelo, sem machucar. Sorri pra ele, e ele se rendeu.
Quando começávamos a comer, Thomas entrou no refeitório. Ele parou na porta, com seu bando de amigos arruaceiros a sua volta, olhando em torno. Era um costume estranho que ele tinha, como se quisesse que todos vissem que ele estava ali. Possivelmente ele queria que todos vissem. De qualquer maneira, ele estava mais bonito naquela manha do que eu habitualmente me lembrava dele. Ou talvez eu estivesse reparando mais nele.
Ele usava uma camiseta preta com estampas em azul, uma munhequeira puxada até o antebraço e jeans escuros, o cabelo arrepiado. Sua entrada, graças a Deus, chamou um pouco da atenção que estava na nossa mesa.
Seus olhos azuis passaram por todo o refeitório com uma expressão indiferente e superior, até que nos alcançaram. Sua expressão foi substituída imediatamente pela fúria. Eu o encarei, e ele me encarou sombriamente de volta. Senti Aidan me puxar para si, e não opus resistência, deixei que ele me encostasse em seu peito largo apenas parcialmente consciente do que ele fazia. Meus olhos continuavam pregados nos olhos de Thomas.
Ele irradiava raiva, sua expressão era assassina. Me amedrontou até sentir o calor do corpo de Aidan atrás de mim e seus braços a minha volta. “Está tudo bem”, ele disse ao meu ouvido, e então beijando os meus cabelos com suavidade. Thomas explodiu. Soltou um palavrão alto, que faria corar um presidiário, pegou a bandeja de uma menina do primeiro ano que passava inocentemente pela frente dele e jogou na parede com toda a força. A comida fez uma enorme sujeira e a bandeja se quebrou com o impacto. Ele relanceou a nós outro breve olhar de ódio antes de virar as costas e sair. O ar estava suspenso no refeitório, ninguém se mexia, ninguém falava, todos se entreolhando, se perguntando que diabos havia acontecido com ele.
Levantei de repente, pronta pra ir atrás dele, mas Aidan me impediu, com a mão em meu braço. Olhei, ainda meio ausente, meio em choque, sua mão apertando de leve meu antebraço, e então olhei pra ele. Ele se levantou, e soltou meu antebraço para por as duas mãos em meus ombros e forçar-me delicamente para baixo, até que eu estivesse sentada novamente. Continuei olhando vazia para ele, e ele me encarando com firmeza de volta.
- Ele fez a escolha dele, princesa. – ele me disse em voz baixa, ainda olhando nos meus olhos. Demorei alguns minutos, mas finalmente assenti.
Os dias seguintes estabeleceram uma rotina estranhamente confortável entre mim e Aidan. Eu saia com ele quando ele pedia, ia ver seus jogos e treinos, tentava ser sociável com seus amigos. E ele ficava em casa comigo quando eu queria, vendo filmes, cozinhando juntos ou apenas me olhando enquanto em desenhava seu rosto vezes sem conta. E a cada dia em que nós ficávamos melhores um com o outro, Thomas ficava mais e mais selvagem.
Seus ataques de raiva eram largamente comentados na escola e eram tantos que logo eu e Aidan não éramos mais assunto. Só falavam dele, e o temiam mais e mais. Eu estava seriamente preocupada, mas Aidan me tranqüilizava, dizendo que tudo ficaria bem. Eu aceitava, por que não sabia o que poderia fazer. Mas a cada vez que o brilho furioso dos olhos azuis me atingia, eu me sentia destroçada, um buraco crescendo no peito, e ele queimava mais e mais. Eu era responsável, ou era o que a minha consciência acusava em neon vermelho.
Eu me adaptei quase imperceptivelmente á rotina do time de basquete de Aidan. Eu me sentava na arquibancada, pegava meu bloco de desenho, meus fones de ouvido, e desenhava. De quando em quando levantava a cabeça, meio distraidamente, eu confesso, para ver onde Aidan estava. Se me via olhando, ele acenava, e eu sorria. Se não, eu voltava ao meu desenho.
Fui numa dessas vezes em que olhei de relance para a quadra, que não o vi. Verifiquei duas vezes cada jogador que corria na quadra, mas Aidan não estava lá. Franzi o cenho e desci até o campo. O treinador me disse que ele tinha pedido despensa e ido para o vestiário. Assenti e fui naquela direção, pensando que ele podia estar se sentindo mal. E bem, a idéia de ficar sozinha com Aidan nunca era desagradável. Quando me aproximei do vestiário masculino, ouvi um som indistinto e abafado. Segui pra lá, um tanto apreensiva. Ao abrir a porta, no entanto, congelei.
A voz de Aidan estava alta, quase um grito. Mas a voz de Thomas estava muito mais, elevada pela raiva. Eles discutiam calorosamente.
- EU ESTOU ENLOUQUECENDO! – Thomas gritou, socando a parede. Nenhum dos dois notou a minha presença. Continuei quieta, sustendo a respiração, observando.
Aidan ouxou a mão dele, e então prendeu-a com força na parede. Sua outra mão segurou o punho de Thomas, que tentava vivamente acertá-lo, de encontro do corpo deles. Seus olhos se encontraram. Aidan estava irado. Eu me perguntava o que Thomas teria dito para por tal quantidade de fúria em seu rosto normalmente calmo e sorridente. Tom não estava menos raivoso. Eles ficaram se encarando, respirando rápido. Então Thomas fez um movimento inesperado e virou Aidan de encontro a parede onde antes ele o mantinha cativo, invertendo suas posições.
Em seguida, sua boca tomou a dele, violenta, desesperada, furiosamente. Eu me ouvi arfar.
Haviam dúzias de coisas que eu supostamente deveria sentir naquela hora. Raiva. Traição. Descrença. Repulsa, nojo talvez. Mas não alivio. Não o inexplicável alivio que inundava meu coração e preenchia o buraco em meu peito.
No entanto, não pude negar a estranheza da situação de ver meu – não se – namorado se atracando com outro cara. Talvez por ser Tommy, talvez pelo nosso pequeno monstro secreto. Talvez por que eu esperasse por isso. Talvez por que quem sobrava naquela relação fosse eu. Não sei. Naquele momento, não me interessava saber.
Dei alguns passos vacilantes para frente, sem saber muito bem o que fazer. Tropecei em um banco, fiz um ruído. O barulho ecoou alto no silencio que só era quebrado pela respiração ofegante de Aidan e Thomas. Eles se assustaram. Tom pulou para longe de Aidan. Este permaneceu onde estava, se escorando na parede. Quando viu que era eu, sorriu pra mim.
Sorri de volta, quase mecanicamente. Seus lábios cheios estavam rubros e inchados pela violência do beijo. Ele passou de leve a língua sobre eles, como se provasse o sabor de Thomas que permanecia neles.
- Marion... – A voz de Tommy veio hesitante e meio em choque. Olhei para ele e seu rosto era uma mascara de culpa. – Eu...
Eu não sabia o que era esperado que eu fizesse. Me descabelar? Gritar? Bater em alguém? Talvez chorar.
- Vocês deviam ter mais cuidado. – Falei por fim, resolvida a seguir meu coração. – Qualquer um poderia ter entrado aqui. – Minha certeza era de que, o que quer que aquele beijo tivesse significado, nenhum dos dois gostaria que os outros soubessem. Minha primeira preocupação era com eles, como sempre fora desde que nós éramos pequenos. Os dois me olharam, intrigados, e então Aidan abriu um sorriso largo e prazeroso.
Caminhei decididamente até Tommy, encarando seus olhos, desfazendo o triangulo quase perfeito que nossas posições tinham formado sem querer. Seria esse o nosso carma? Um eterno triangulo?
Parei á sua frente, tranqüila. Segurei firmemente na gola da sua camiseta e me ergui na ponta dos meus pés, encostando meus lábios nos seus. Ele se assustou, e eu pressionei mais forte. Então suas mãos desceram para minha cintura, me puxando de encontro ao corpo dele. Escutei a risada de Aidan atrás de nós, mas não me importei com qual era o maldito problema dele, pelo menos não naquele momento.
Beijar Tom era excessivamente diferente de beijar Aidan, apesar de colocar o mesmo frenesi absurdo no meu corpo. Seus lábios era mais duros, mais exigentes, menos delicados. Suas mãos me apertavam mais, sua necessidade de mim parecia maior. Eu estava apenas parcialmente consciente da pequenina voz na minha cabeça gritando “O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?!” pra mim.
De repente Thomas me soltou. Dei um passo atrás apenas em tempo de vê-lo correr porta fora. Coloquei a mão sobre os meus lábios, e relanceei um olhar para Aidan. Ele permanecia encostado na parede, também olhando para mim.
Aidan me deu um sorriso torto. Fiquei olhando pra ele, sem saber o que fazer. Ouvi o apito do treinador , muito distante, lá fora, pela porta que Thomas deixara aberta em sua fuga. Aidan continuou a sorrir, e num instante o time assoviava e gritava, entrando no vestiário. Somente o fato de estarmos a uns bons dois metros um do outro e muito bem vestidos não os fez dizerem obscenidades piores. Eu não liguei. Continuei a olhar para Aidan por mais um instante, para o seu sorriso. Como ele podia sorrir quando eu tinha beijado outro garoto na sua frente? Quando ele tinha beijado outro cara na minha frente? Quando Thomas estava em algum lugar se remoendo de remorso?
Balancei a cabeça para ele, desolada, e sai do vestiário o mais rápido que consegui. Parei apenas por um momento na arquibancada, para pegar minhas coisas, e então caminhei o mais rápido que podia sem correr. Eu me ordenava firmemente para não pensar, e ficava gritando isso na minha mente para impedir os pensamentos de virem enquanto eu subia no ônibus que me levaria para longe. Quando o ônibus saia, eu vi Aidan no ponto. Ele olhava para mim, verdadeiramente intrigado. Ficou observando o ônibus se afastar e então, eu vi Thomas, fechado em seu carro, no estacionamento. Sua cabeça se apoiava no volante. Mais uma vez nossas posições formavam um triangulo perfeito. Senti ímpetos de descer e ir até ele, dizer que tudo ficaria bem. Que nós íamos resolver isso. Mas eu não podia. Não apenas porque o ônibus em movimento me levava para longe deles, mas também por que eu não sabia se eu poderia mentir tranqüilamente para ele. Tudo ficaria bem? Isso era uma piada. Um de nós teria fatalmente de sofrer. Abafei os pensamentos com musica, no ultimo volume. Eu repetia as letras na minha cabeça, para não pensar. O ônibus me levou até a rua de casa. Eu passei por ela sem entrar, jogando as minhas coisas na varanda da frente e caminhei até a casa da arvore, ainda gritando as letras na minha mente. Meu celular vibrou em bolso. Eu sabia que ele devia estar tocando também, mas eu não podia ouvir. Eu imaginava quem era, mas eu não poderia falar com Aidan me sentindo tão confusa.
Subi, com mais facilidade dessa vez, e me sentei em um canto. Parei de repetir a letra e desliguei a musica. Então deixei a minha mente, mais calma dessa vez, divagar sobre o que acontecera a tarde, e me fiz uma lista das coisas que estavam me confundindo.
Primeiro: Por que eles estavam discutindo?
Segundo: Por que Thomas beijara a mim e a Aidan com a mesma... não sei, intensidade?
Terceiro: Porque Aidan não se parecia NEM UM POUQUINHO abalado quando eu e Tommy tínhamos ficado tão obviamente transtornados?
Quarto: Quem Aidan queria? Eu ou Thomas?
Quinto: Quem Thomas queria? Eu ou Aidan?
Sexto: Quem, diabos, EU queria? Por que eu não podia simplesmente escolher? Por que os dois me davam o mesmo frio no estomago, suor nas mãos e nervosismo? Eu poderia amar os dois? Ou eu não amava nenhum?
Parei, percebendo que já haviam umas outras seis perguntas inseridas só nessa ultima. Mas não pude deixar de me perguntar, além dessas, uma sétima.
Quanto do que nós tínhamos feito aos doze anos se espelhava agora?
Também percebi que não tinha feito nenhum progresso. Suspirei. A tarde estava caindo eu podia ver pelos ângulos de luz que entravam em nossa velha casa da arvore. Suspirei de novo, tirando o celular do bolso. Eu realmente achava que não estava pronta pra isso. Mas entre fazer ou ficar mais cinco anos remoendo aqui, eu decidi por fazer. Meus dedos percorreram o teclado familiar com rapidez, digitando a curta mensagem.
Me encontre agora na casa da arvore. Precisamos conversar. Marion
Apertei para enviar, e então em selecionar contatos.
Aidan(L)
Inserir
Thomas =)
Inserir
Confirmei, ainda meio hesitante.
Enviando mensagem
Mensagem enviada com sucesso!
Respirei fundo, fechando o flip com um movimento da mão, então bati o celular fino duas vezes no queixo, pensando, antes de guardá-lo de volta no bolso. Jesus, o que eu estava fazendo? Colocando os dois aqui juntos?
Uma vozinha ecoava na minha cabeça. Eles não precisam de você, eles são brilhantes e mais que o suficiente um para o outro. E daí que eles sejam gays? Os dois têm confiança o suficiente para mostrar para Deus e o mundo. E com o carisma de Aidan, todo mundo aceitaria sem pestanejar, eu achava. Eu ia ficar sozinha. Mas eu não podia ficar nesse triangulo pra sempre, podia? Alguém ia sobrar, e eu só rezava para que não fosse eu.
Esperei, mas não muito. Ouvi alguém subindo as escadas, e suspendi a respiração por um momento. A cabeça avermelhada pelos raios de sol de Thomas apareceu no buraco. Ele subiu, seu rosto completamente vermelho. Eu sorri. Meu doce menino.
- Chevalier. – Eu disse, na minha voz mais doce, já que ele se recusava a me olhar, ainda hesitando na entrada.
- Marion... – ele respondeu, mas parou, sem saber o que dizer.
- Está tudo bem, Tom. Mas nós precisamos resolver isso de uma vez, você não acha? – Eu lhe disse, ainda com a voz doce. Ele tinha entrado, meio abaixado, e se sentado no outro canto. Nossos corpos permaneciam perto do mesmo jeito, já que o espaço era minúsculo. Senti meu corpo formigar.
- Como sempre, a nossa linda princesinha tem toda a razão. – A voz de Aidan o precedeu. Thomas olhou pra mim assustado, e fez menção de levantar. Aidan já entrava, e lhe deu um risinho divertido. Thomas corou e sentou-se novamente.
- Meio tarde pra fugir... – Aidan disse, ainda com o riso na voz. Virei-me para ele, furiosa.
- Não sei que graça você acha nessa situação, Aidan! Você devia se envergonhar!
Ele gargalhou. Fiquei olhando pra ele, meus olhos fuzilando-o.
- Qual é a graça? Caramba, vocês estão fazendo tanto drama disso... não dá pra não rir. Alias, Tommy, meu braço está ficando roxo por sua causa. Da próxima vez aperta mais de leve.
- Não vai... – Tom pareceu parar pra tomar fôlego, indignado. – Não vai haver próxima vez! Eu estava muito nervoso, não sei por que fiz aquilo!
- Por que eu te atraio terrivelmente?Assim como a nossa pequena Marion? Encare os fatos, Tom.
- Eu não...
- Por que vocês estavam brigando? – Cortei, seca. Eles iam passar a eternidade naquilo, e eu queria respostas. Logo.
- Por você, é claro. – Aidan me sorriu. Os sorrisos dele estavam atiçando o pior no meu temperamento.
- Como assim?
- Thomas queria que eu te deixasse. – ele disse com um dar de ombros. Eu relanceei um olhar para Tom, que parecia um pimentão de tão vermelho, entretido com fios imaginários em sua calça jeans. Quem o conhecesse jamais acreditaria nessa cena. Tentei me manter firme diante aquela afirmação dita em voz calma até demais.
- E você vai? – perguntei tentando parecer segura.
Aidan riu alto de novo, então estendeu a mão de leve para o meu rosto. Vi um lampejo de raiva no rosto de Thomas.
- É claro que não, Princesa. Eu amo você. – Ele disse, como se fosse a coisa mais obvia do mundo. Definitivamente me pegou de surpresa.
- Mas... a sua reação quando Thomas... e o que você disse pra ele e... – eu falei, superando devagar o choque. Thomas não tinha uma expressão nada feliz do meu lado.
- Eu amo Thomas também. – Aidan afirmou, me olhando nos olhos com genuína surpresa.
- O QUE?! – eu e Tom gritamos ao mesmo tempo.
- Que foi? – Aidan tirou a mão de mim e colocou uma no meu joelho e uma no de Thomas. Meu corpo formigou com o contato, e pude ver Tom olhar para sua mão e estremecer, mas não retirou-a de lá. – Eu gosto dos dois. Que isso tem de mais?
- Você quer uma lista por ordem numérica ou alfabética? – Thomas perguntou, parecendo finalmente voltar ao seu “eu” natural.
- Vamos, me dêem um exemplo de porque eu deveria escolher. – Ele sorriu e apertou, me deixando com a mente vazia por instante. Tinha um motivo, não tinha? Eu só não podia me lembrar qual era.
- Você não pode ficar com os dois. Por isso você deveria escolher. – Thomas disse, muito serio.
- Não entendi a lógica do argumento. Por que eu não posso ficar com os dois?
Eu olhei-o, chocada.
- É claro que você não pode ficar com nós dois! – exclamei.
- Eu sou um cara. – Assinalou Thomas. – E eu não sou gay. – essa parte não foi dita com tanta certeza assim.
- Eu nunca disse que você era. Nem que eu sou. Eu não gosto de homens em geral. Eu amo você, é completamente diferente. – Aidan tinha tanta convicção no que dizia. Thomas mais uma vez corou com suas palavras. – Vocês falam como se não sentissem o mesmo que eu. Qual é, Marion? Acha que eu não percebi como você se sentiu com o beijo do Thomas? Só se eu fosse cego. E Tom, você disse que não suportava ver eu e ela juntos. Suas palavras foram “Suas mãos sobre ela me tiram o controle”.
Olhei para Thomas, analisando-o. Deliberadamente mantive meu silencio sobre a pergunta de Aidan.
- Isso não muda nada nessa confusão. – Thomas declarou, seu rosto voltando a cor normal novamente. Ele levantou os olhos, encarando Aidan firmemente. Fiquei surpresa, desde que a vergonha tinha assumido-o completamente. – Não importa o que eu ou você sentimos um pelo outro. Só aquele que faça Marion mais feliz. Eu jamais deveria ter gritado com você naquele vestiário. Você é melhor pra ela que eu. É a você que ela ama. Isso é tudo em que nós temos que pensar. – Eu deveria ter imaginado que o meu valoroso cavaleiro iria tentar ser nobre e protetor. Mas acho que já mencionei que foi-se o tempo em que eu precisava de proteção. Percebi que eu tinha deixado-me ficar confortável ao lado de Aidan. Ele me acalmava, trazia o melhor de mim. Thomas me agitava. Ele se levantou, preparando-se para sair. Aidan olhou para ele, e então pra mim.
- Sente-se. – eu disse para Thomas, ignorando o olhar de Aidan.
- O que? – Ele respondeu.
- Eu mandei sentar. – repeti, irritada. Quem aqueles dois pensavam que eram, comandando a minha vida daquele jeito. Thomas olhou pra mim desconcertado. Retribui seu olhar, seria. Ele sentou.
- Agora os dois vão me ouvir. E quietos. – Continuei. – Você acha que pode só levantar e sair, Thomas? Estou me lixando pro seu senso de dever. Você acha que sabe o que eu sinto? Você acha que pode decidir por mim? – Aidan abriu seu sorriso enquanto Thomas me olhava assombrado. – Aidan ama nós dois. Ótimo, por que eu também amo vocês dois. Isso é um problema, quando você parece tão relutante, e Aidan parece achar que estamos tentando a relação mais normal do mundo quando ele vira pra mim e diz que me ama mas também ama outro cara. Cara esse que EU também amo. Então nos diga você, senhor da verdade e da honra, que tipo de relação doentia é essa onde nós não podemos nos sentir completos sem você.
Me calei, a respiração em arquejos. Eu mesma não compreendia metade do que disse. Os dois me olhavam, Thomas chocado, Aidan francamente divertido.
- Ela não é perfeita? É por isso que eu te amo. – Aidan disse, rindo. Ignorei-o, meus olhos fixos em Thomas.
- Isso é totalmente impensável. – Ele afinal se pronunciou, olhando nos meus olhos, e então desviando para os de Aidan. Seu sorriso morreu, a tensão do ar podendo ser cortada com uma faca.
- Mas você está pensando nisso, não é? – Aidan desafiou Tommy, os olhos dos dois dardejavam de um para o outro e para mim, assim como os meus passeavam incessantemente por eles.
- Eu não deveria. Isso não é correto. Nós não podemos ter um relacionamento á três. É anti-natural. É doentio. – Thomas queria de todas as formas ter argumentos mais fortes que aqueles, eu podia ver em seu rosto. Aidan poderia rebatê-los com uma facilidade extrema. Ele ia fazê-lo, mas eu me adiantei.
- Por que é doentio? Nós nos amamos, certo? Nenhum de nós será feliz de outra forma.
- A idéia me agrada. Nós poderíamos manter isso facilmente. Claro que até que sairmos daqui pra faculdade, teremos de manter as aparências. Tenho a impressão que as pessoas não entenderiam. Mas é só mais um semestre. Por que não? – Aidan acrescentou.
- Vocês fazem alguma idéia do quanto isso é tentador? Do quanto eu quero fazer isso? – Thomas perguntou, a duvida dolorosa exprimida em seu rosto me machucava. Levei a mão até seu rosto, acariciando-o levemente. Ele esfregou-se contra minha mão, como um gato. Percebi o quanto ele estava carente.
- Nós podemos fazer dar certo, Tommy. Eu sei que podemos. – falei baixinho. Ele colocou sua mão sobre a minha, e sua outra mão procurou a de Aidan, do mesmo modo que a minha já apertava a dele sobre a minha perna.
- Sim. – Thomas disse afinal.- Nós podemos.
Aidan sorriu, puxando nós dois para si, para um beijo de ângulo estranho que demorara cinco anos pra voltar a acontecer. O nosso monstro se tornou um gatinho. Eu sorri contra os lábios deles, antes de deixar levar pelo beijo.
Epilogo
Cambridge, três anos depois
- Aidan? Tom? – Perguntei, abrindo a porta do nosso apartamento, meus braços carregados de livros sobre a arte renascentista. Eu tinha um trabalho importante para entregar sobre o assunto. Eu decidira entrar para o curso de Design. Thomas fazia Direito e Aidan fazia Medicina.
Encontrei-os sentados no chão da sala, entretidos com um jogo qualquer no videogame. Largei meus livros sobre um poltrona e me joguei no sofá atrás deles. Olhei em volta, com um sorriso. O apartamento, um presente dos ricos pais de Thomas pela sua recuperação milagrosa na escola e ainda mais milagrosa aceitação em Harvard. Quando eu e Aidan também fomos aceitos, nossas três famílias fizeram uma grande festa. Nossos pais estavam felizes que nós havíamos voltado a ser amigos. Ninguém achou particularmente que nós fossemos morar no apartamento de Thomas quando fomos pra New Hampshire, por que nós tínhamos tornado inseparáveis naqueles seis últimos meses antes da formatura. Ninguém desconfiava do nosso relacionamento especial.
Iriamos contar. Algum dia.
Por hora, estávamos felizes com a nossa vida. Nós estudávamos, ia-mos ao cinema, jantávamos fora, fazíamos sexo. Como um casal normal. Só que á três.
As vezes eu ainda estranhava o afeto de Aidan e Thomas entre eles. Mas então um dos dois me sorria ou fazia um carinho, e eu logo esquecia a estranheza.
Angel pulou no meu colo. Chevalier se enroscava, preguiçoso, nas pernas de Thomas que meio vagamente lhe acariciava o pelo macio e cheio. Princess, a ultima de nossos gatos, devia estar brincando em algum lugar do apartamento.
A partida acabou, Aidan se virou para me olhar para mim e sorriu. Princess estava aninhada em meio as suas pernas cruzadas. Thomas estava resmungando por ter perdido.
Afaguei sua cabeça com carinho, ainda perdida, contemplando a minha casa, os meus amores. Aidan se apoiara sua cabeça nas minhas pernas enquanto Thomas afagava o meu rosto, as pernas dos dois se cruzando. Como sempre, nossos corpos formavam um confortável triangulo.
Era justo que alguém pudesse ser tão feliz?
Senti os dentes dele brincarem com os meus lábios e torci para que fosse justo.

FIM

Marco... Polo!

Marco...Polo!
-Adeus querida, cuide-se. Nós voltamos outro dia.
Os três beijaram a cabeça dela, e ignorando os outros dois jovens presentes no quarto de hospital, saíram pela porta.
Nate ficou observando sua “irmã” de criação, os cabelos dourados ondulando, suavemente repousados sobre a camiseta preta e simples, a calça jeans definindo os quadris perfeitos, a jaqueta, também negra, apoiada no braço junto com o capacete prateado, se afastando junto com os outros dois que ele não conhecia.
- O que a sua irmã estava fazendo aqui, Nate? – perguntou Amanda, a voz emburrada. - ela não deveria estar no internato, onde é o lugar dela?
- Ela não é minha irmã. – Nate sempre detestara que os chamassem de “irmãos”. Morgan também sempre contestara a denominação. Não eram irmãos, apenas moravam na mesma casa. A mãe de Morgan se casara com o pai dele havia cinco anos, trazendo consigo a filha, um ano mais jovem que ele. Mas nunca se deram muito bem. Ele não entendia aquela garota silenciosa e concentrada. – E sim, ela devia.
- Eles vieram me visitar, não é incrível? Viajaram 150 km só pra vir me ver! – exclamou a garota deitada na cama de hospital, April, a única amiga que ele se lembrava que Morgan tinha.
- É mesmo uma marginal essa garota, fugindo do internato. – Amanda desdenhou. – E quem eram aqueles com ela?
- Qual é a sua, Amy? Veio fazer o que aqui? Estou internada á quase um mês, e você nunca veio. E se é pra ficar me aborrecendo, vá embora. Mas eu agradeço os chocolates Nate, obrigada. E pelas outras visitas também. É muito gentil.
- Sua ingrata! Eu perco meu precioso tempo vindo até aqui, e tudo que você faz é elogiar a esquisita da Morgan e me criticar! Francamente, não sei o que você vê nela.
- Ela não é mesquinha, egoísta e patética como você.
Vendo que Amanda fazia menção de responder a irmã, Nate interveio.
- Ela não pode se aborrecer, Amy. Controle-se. E eu também estou curioso, April. Quem eram aqueles? – perguntou para aquietá-las, e a si mesmo, enquanto ia até a janela do quarto de terceiro andar do Hospital Central de Millenium. Nessa hora, Morgan saia do prédio, em direção ao estacionamento, ladeada pelos jovens.
- São amigos de Morgan, do internato. E meus amigos também, mas nos conhecemos pessoalmente hoje.
- Como você pode se dizer amiga de pessoas que conheceu hoje?- Amanda, no seu eterno tom de desdém.
- Eu disse que nos conhecemos pessoalmente hoje. Mas falo com eles todos os dias, e acompanho tudo que fazem. São muito gentis tanto Guilherm quanto Selena.
Os três agora chegavam onde haviam grandes motos estacionadas. O garoto montou numa preta, seguido pela garota desconhecida, numa vermelha. Morgan ainda olhou em direção á janela, como se pudesse vê-lo observando-a. Então balançou a cabeça, e colocou o capacete, subindo na moto prateada e acelerando para fora do estacionamento.
- Como assim acompanha? Que historia é essa? – Amanda estava curiosa, afinal sempre sentira inveja de Morgan. Sempre a protegida de todos, sempre a preferida da irmã gêmea agora doente, sempre a mais bonita, mais discreta, mais inteligente. Ela fizera amizade com April logo que ela e a mãe se mudaram para a pequena localidade de Millenium, não demorando para a mãe dela se casar com o pai de Nate, o seu tão cobiçado Nate. Mas, misteriosamente, sempre houvera uma antipatia indefinida entre ela e Amy, que acabou por afastar April dela.
- Espera ai!- Exclamou Nate, virando-se para encarar April – Eles vieram até aqui de MOTO?! Mas Morgan nem sabia dirigir!
April riu. – O que você realmente sabe da vida de Morgan, Nate? Ela sabe sim, e tem muito tempo. E Amy, eles andam com uma câmera o tempo todo. É a forma que encontramos de nos manter conectadas, e me faz sentir menos só. E agora vá embora, que quero descansar.
Amy ia retrucar, aborrecida, mas Nate impediu-a.
- April tem razão, Amy. Ela teve um dia agitado, ao que parece. Tem mesmo que se poupar. E sinto muito April, mas Eillen vai ter que saber que a filha dela anda fugindo da escola.
- Nate, em que mundo você vive hein? Morgan vai passar a semana em casa, eles estão de férias, por que vão dedetizar a escola. E Guilherm e Selena vão ficar na sua casa. – preferiu não comentar que Morgan vinha vê-la quase todos os fins de semana desde que fora para o internato. Nem contar das noites de sábado em que fugia de casa com a amiga, antes de ser internada.
- O QUE?!- exclamou Amy, alarmada. Acreditava ter se livrado da incomoda presença de Morgan para sempre, já que ela não voltara mais para casa, desde que a mãe decidiu interná-la.
- Bem... é muito longe para Guilherm e Selena voltarem para casa, na Europa, e não podem ficar na escola. Então Eillen disse que eles podiam ficar na sua casa.
Nate achou melhor deixar pra digerir a informação depois, antes que Amy transtornasse ainda mais a irmã, decidiu tirá-la dali. Deixou-a em casa, sob protestos, e foi até a sua. Imediatamente notou as três motos estacionadas na garagem, mas a casa estava bem silenciosa. Eillen ainda estava trabalhando, na sua livraria, enquanto o pai dele, ainda estava na escola, onde era professor.
Entrou em casa, e subiu para o andar de cima, para o próprio quarto. Imaginava que Eillen ia colocar o tal garoto dormindo ali também, e a menina com Morgan. Mas não encontrou a mínima alteração no quarto, nenhuma mala ou mochila, nada. Então ouviu vozes diretamente acima de sua cabeça, no sótão.
Saiu de volta para o corredor, a inquietação que sentira desde que vira Morgan aumentando a cada passo. Não estivera com ela nos últimos oito meses. E ela estava diferente, apesar de ainda parecer silenciosa como sempre.
A escada do sótão estava abaixada, e subiu por ela, dando de cara com três camas de solteiro antigas, coladas uma na outra, com mochilas e roupas espalhadas pelo chão do velho sótão. Os três estavam sentados nas camas, um em cada, parecendo muito bem acomodados.
- Mas o que é isso, Morgan?! – exclamou ainda da escada.
- Onde espera que a gente durma, Nate? No meu quarto não tem espaço para três! – possivelmente a maior frase que ela lhe dissera em mais de um ano.
- Como assim três? Quem mais vai vir para cá?
- Hum, Nate? A convivência com Amanda está te afetando. Você costumava saber pelo menos contar. Um, dois, três – disse, apontando para si mesma e para os dois amigos. – entendeu?
- ELE vai dormir aqui em cima? Com vocês? Duas garotas? A sua mãe sabe disso?
Ela se levantou da cama, e caminhando até ele, parou exatamente um passo a sua frente, enfrentando seus olhos com uma singular expressão de fúria. Nate não se lembrava de ocasião alguma em que a enfurecera, e isso lhe dava uma estranha sensação de bem-estar.
- Você não é meu pai, Nathan. Não tem o direito de ficar fazendo perguntas, indignado, como se tivesse alguma preocupação comigo. E sim, a minha mãe sabe que Guilherm vai dormir aqui. Mas, como ela tem inteira confiança em mim e no cavalheirismo dele, e principalmente não tem essa mente pervertida que você aparenta, acha que está bom assim. Vá cuidar de com quem a bitolada da sua namoradinha anda dormindo, não eu.
Nate estranhamente não se ofendeu. Sorriu e disse:
- Essa é provavelmente a maior conversa que já tivemos, irmãzinha. Bem vinda de volta. – então virou as costas, e desceu. Não sem antes ouvi-la gritar lá de cima.
- EU NÃO SOU SUA IRMÃ!
Sorriu novamente, indo buscar algo para comer.
***
Morgan virou-se para Selena e Guilherm, sentados na cama.
- Ele mexe com você. – declarou Selena, caçoando dela.
Morgan bufou para ela, e se jogou na cama.
- Ele me irrita, é só isso. E mais essa agora, ele junto com Amanda. Era só o que faltava, para aquela coisa não sair mais daqui.
- Vamos lá, Morgan. Não pode ser tão ruim. Vamos nos divertir por aqui, tenho certeza.
Ela levantou a cabeça, olhando para Guilherm.
- Tenho uma idéia melhor. Por que não pegamos o seu jatinho e vamos, sei lá, esquiar nos Alpes? Que tal?
Ele cutucou-a com o pé.
- Não seja covarde, sim. E o jatinho está com o meu pai, em algum micro-pais asiático que eu não lembro o nome no momento. Logo, estamos presos aqui. E você não sabe esquiar.
- Que tal primeira classe para Paris?
- Morgan!
- Ta bem, ta bem! Foi só uma idéia, Guilherm. Mas se vossas altezas reais desejam tanto ver como um adolescente americano médio vive, e dormir num mini-sotão, quem sou eu para discordar.
Selena riu dos dois, e levantou-se, perguntando o que os adolescentes americanos médios comiam, já que estava faminta.
Desceram para a cozinha, achando Nate preparando um sanduíche.
- Em casa? Podia jurar que você estaria do outro lado da rua, se atracando, digo, namorando Amanda. – Morgan não conseguiu refrear a ironia, nem o instinto de provocá-lo.
Ele levantou as sobrancelhas para ela, mastigando. Morgan apenas revirou os olhos, ouvindo Guilherm pigarrear atrás de si.
- Não seja descortês, Morgan. – ele disse.
Ela revirou os olhos de novo, passando por Nate para abrir a geladeira.
- Está bem, príncipe Guilherm. Esse seu excesso de educação ainda vai lhe fazer mal.
- Céus, como você se tornou falante! Não tenho certeza, mas acho que ainda era mais simples quando você não falava. – reclamou Nate. – e pelo menos naquela época você tinha educação suficiente para me apresentar às pessoas.
- Eu não falava com você. E pretendo corrigir esse excesso de comunicação em breve. E Nate, esse são Guilherm e Selena, meus amigos, que vão ficar conosco essa semana. E esse é Nathan, enteado da minha mãe. E o cara com a pior namorada do mundo.
- Serio, você e Amy deviam tratar essa hostilidade. E ela não é minha namorada.
Morgan grunhiu, colocando sanduíches e suco na frente da bancada onde os amigos haviam sentado. De repente, Guilherm começou a falar em alemão, deixando Nate olhando desconcertado para ele. Selena pareceu concordar, também falando algo. E Morgan respondeu, deixando-o perplexo.
“Isso é mesmo só implicância com Amanda, Morgan? Por que você irritada demais para ser só isso”.
“Concordo. Você parece estar se importando demais.” Foi o complemento de Selena.
“Bobagens.” Morgan encerrou o assunto.
- Você fala alemão?! – perguntou Nate, abismado.
Ela concordou coma cabeça, mastigando.
- Foi meio que uma necessidade, convivendo com dois austríacos o tempo todo. Porque o espanto?
- Você é mesmo uma surpresa constante. Primeiro me aparece no hospital do nada, de moto, depois resolveu dormir com um garoto no mesmo quarto, e agora fala alemão. – Nate enumerou, desconcertado.
Selena riu, falando novamente em alemão.
“Fui só eu que achei que ele se importou mais com a parte de dormir com um garoto do que com o resto?”
Guilherm também riu, enquanto Morgan fechava a expressão.
- Bem Nate, não é de se surpreender que você não saiba muita coisa sobre mim. Nunca se deu ao trabalho de descobrir. – ela, no entanto, sabia tudo sobre ele. Desde a marca de chocolates preferida (MM’s) até o melhor amigo. Tudo.
- E você nunca se deu ao trabalho de me responder com nada além de monossílabos.
Ela grunhiu de novo, colocando o prato e o copo que sujara na pia. Não lavava louça há oito meses, e dava graças aos céus por isso.
Nate tentou ser simpático com as visitas, apesar de não gostar muito do garoto. Ou talvez fosse apenas implicância.
Quando terminou, voltou para junto dos amigos. Percebeu que Nate convidava-os para nadar no lago, e Guilherm e Selena pareciam ter amado a idéia. “Mais tempo junto dele”, pensou Morgan, dando um suspiro cansado.
- Esta bem. Vou colocar um maio.
- Você nunca se preocupou em usar maios quando morava aqui, Morgan. Alias, lembro de varias vezes em que você chegou em casa com a roupa toda ensopada.
- Foi um habito que adquiri na escola, Nathan. E acho melhor ir devagar com os hábitos de adolescentes médios típicos, senão Guilherm e Selena vão ter um choque de cultura.
Lançou mais um olhar fuzilante para ele, enquanto subia as escadas, seguida pelos amigos.
- Hum, Guilherm? Olha, eu posso aceitar que vocês durmam todos juntos e tal, mas esperar que vocês troquem de roupa junto é demais! – reclamou Nate.
Guilherm riu, e disse em alemão “Ele é bem superprotetor pra quem não é um irmão”.Mas respondeu a Nate em inglês, logo em seguida.
- Eu vou só pegar o calção na mala, e prometo que me troco no banheiro.
- Eu vou pegar a bola no meu quarto, então posso verificar por mim mesmo.
Morgan soltou um palavrão em alemão, sendo logo repreendida por Guilherm.
Aquela troca de palavras estrangeiras dava uma sensação ruim em Nate, por não poder entender o que eles diziam.
Ficou na porta do quarto até ver Guilherm entrando no banheiro do andar superior. Antes de fechar a porta, o outro sorriu para ele, como se aprovasse sua atitude.
Balançando a cabeça, Nate foi pegar a bola.
Logo descobriu que quando Morgan disse “maio”, ela queria dizer “mini-biquíni”. Olhou chocado para ela de novo, o biquíni azul escuro delineando o contorno dos seios, a barriga coberta apenas por uma faixa fina de tecido ligado á uma argola de metal, um calção minúsculo ocultando a parte inferior da roupa. Ela sorriu, sarcástica, para o olhar embevecido dele.
- É o apocalipse. – reclamou ele em voz alta.
Morgan riu, descendo as escadas para dar o braço á Guilherm. Nate resolveu esperar lá fora, aquela mania deles de ficar se encostando o enervava. Logo Selena também desceu. Morgan caminhou decidida em direção à moto vermelha.
- Você acha que vai de moto? Vestida assim? Nem pensar! – impediu-a Nate, abrindo a porta do próprio carro.
Morgan virou pra ele, uma resposta enraivecida pronta na ponta da língua. Mas perdeu-a quando viu a expressão dele. Parecia que a simples idéia de vê-la de biquíni na moto era demais pra ele. Ignorando a pontada súbita de prazer, e também o risinho sarcástico que viu nos lábios de Guilherm. Bufou, balançou a cabeça, e entrou no carro. Nate sentou-se no banco do motorista a seu lado, parecendo bem satisfeito. Muito satisfeito. Ela bufou de novo, olhando emburrada pela janela, enquanto Guilherm e Selena, no banco traseiro, batiam as mãos, parecendo curtir uma piada particular.
Acabou-se descobrindo, durante o trajeto, que Nate e Guilherm tinham varias coisas em comum, a começar pela musica que tocava no CD player, no momento. O que, é claro, só serviu pra Morgan bufar ainda mais alto. Eles discutiam os prós e contras de um livro de ficção que ambos haviam lido quando Guilherm de repente lembrou que Morgan tinha opinião firme sobre aquele em especial.
- Graffin, digo, Morgan acha ele surrealista demais. – Disse ele, distraído.
- É ficção! – Exclamou Nate, olhando pra ela exasperado enquanto estacionava. – é claro que é surreal.
- Mas ficção cientifica boa de verdade é irreal, mas dá total a sensação que poderia acontecer. Agora uma organização de anões... Francamente! O livro até que é bom, mas é fantástico, não cientifico. O sol brilhou no lago à frente dela, lembrando-a dos dias de verão que passara mergulhando ali com April, vendo Nate jogar vôlei na areia. Suspirou, colocando os óculos escuros. Selena deu um gritinho entusiasmado e sai correndo para a água, com Guilherm em seu encalço.
- Sabe que nós somos até bem parecidos... Isso é surpreendente. Mas você vem me surpreendendo com freqüência ultimamente.
Claro que ela sabia que eles eram parecidos. Uma boa parte dos próprios gostos ela devia á ele. Mas ao invés de responder isso, apenas sorriu, dando de ombros. Havia coisas que era melhor ele não saber.
- Então, que apelido é esse afinal? – ele perguntou, enquanto caminhavam lado á lado ate o deck. Havia poucas pessoas por ali, afinal ainda era um dia de semana. Guilherm e Selena riam, brincando na água como se nunca tivessem entrado nela antes. “Não com tanta liberdade” pensou Morgan consigo.
- Qual? – olhou desentendida pra ele.
- Você sabe, aquilo que o seu amigo te chamou no carro. – ele parecia... Desconcertado.
- Graffin?
Ele concordou com a cabeça.
- Oh. Isso. Bem... É uma palavra alemã. Quer dizer condessa. É uma espécie de brincadeira. Por quê?
- Apenas não conseguia me lembrar de nenhum apelido que você tivesse.
- Há muita coisa sobre mim que você não sabe – ela disse, ecoando sem querer as palavras de April ainda naquela tarde.
Então saiu correndo, de repente, se jogando com tudo no lago. Os óculos escuros esquecidos, jogados pra trás na areia. Ele os juntou, balançando a cabeça, notando que haviam quebrado uma lente. E notou que eram de uma marca bastante famosa. E bastante cara.
Nathan estranhou que a mãe de Morgan estivesse permitindo gastos supérfluos assim. E que Morgan, a sempre tão responsável Morgan, fosse tão descuidada. Caminhou até a ponta do deck, ainda vestido de Jens e camiseta, encontrando a saída de praia dela no caminho. Ficou observando-a nadar por algum tempo, até que Guilherm a pegou nos braços, rindo e girando com ela antes de atirá-la na água. Aquela brincadeira casual fez com que ele a chamasse instantaneamente. Qualquer outro cara teria se perguntado o porquê daquela reação. Qualquer cara, menos Nate. Porque Nate achava que as coisas aconteciam por que aconteciam, e não ficava muito tempo remoendo sobre elas. Simplesmente seguia seus instintos, e a menos que quisesse muito alguma coisa, deixava-se levar pela corrente. E se, no momento, desejava que Guilherm tirasse as mãos do corpo de Morgan, simplesmente faria com que isso acontecesse. Ela nadou até ele, muito bem por sinal. Afinal todas aquelas tardes dentro d’água enquanto as garotas como Amanda se bronzeavam ao sol como lagartos tinham de servir pra alguma coisa.
Ela segurou o deck com as duas mãos, içando-se para cima. A água escorrendo pelo corpo dela era, decidiu Nate, perturbadora. Mais alguma coisa pra se juntar as varias sensações daquele dia que ele não estava entendendo muito bem.
- Seus óculos quebraram. – ele disse engolindo em seco, pensando na primeira desculpa que lhe veio á cabeça para tirá-la da água. – sinto muito. Parecem ser caros.
Morgan tirou os das mãos dele, sorrindo.
- Gui! – ela gritou em direção á água, acenando com os óculos. – Quebraram!
O outro garoto riu, fazendo sinais para ela jogá-los para ele. Ela jogou, rindo, mas não conseguiu acertar, fazendo-os afundarem no lago.
- Acho que sua mãe não vai ficar tão feliz assim quando souber que você jogou centenas de dólares na água! – reclamou ele, incomodado pelo súbito desinteresse dela.
- Oh não – ela disse, torcendo o cabelo e voltando a olhar para ele. – Não foi ela que pagou por eles, então não creio que vá ficar assim tão magoada.
- Como assim não foi...Hei! – mas era tarde demais. Morgan fora se infiltrando por trás dele durante a conversa. E o atirara no lago. Ela se dobrava rindo, sobre o deck. Até que ele puxou-a pelo tornozelo, derrubando na água também!
Voltaram pra casa com Nate reclamando todo o tempo com Morgan por fazê-lo molhar o carro. Mas até ele tinha de admitir que havia sido imensamente divertido.
Eillen, mãe de Morgan esperava-os ansiosamente quando voltaram para casa. Ela abraçou a filha, em lagrimas. Morgan consolou a mãe dando tapinhas em seu ombro, enquanto os outros três continham o riso atrás dela.
- Mãe, olha o que o Nate ta fazendo no tapete!
As lagrimas foram quase que imediatamente substituídas por gritos de agonia sobre como Nathan ia arruinar o tapete com toda aquela água saindo dele. Foi praticamente enxotado em direção ao banheiro, o tempo todo lançando olhares furiosos para uma Morgan sorridente.
Aquele acabou sendo o jantar mais agradável que já havia acontecido naquela família. O pai de Nate ficou ainda mais surpreso que ele com a repentina simpatia falante de Morgan. Eillen forçou-os a irem cedo pra cama, alegando que fora um longo dia. Apesar de saber que ela estava certa, nem todos conseguiram dormir facilmente.
***
Nate ouviu claramente o som de alguém mergulhando na piscina, tirando-o do estupor das varias horas de insônia.Olhou o relógio luminoso ao lado da cama. 02:30 am.
Desceu as escadas xingando baixo, se perguntando quem estaria mergulhando àquela hora. Provavelmente um moleque qualquer, brincando de invadir as piscinas alheias.
Quando o vento frio da madrugada chegou a ele através da porta de vidro aberta, xingou novamente por estar usando somente o short do pijama. Caminhou furioso até a borda da piscina, mas sua fúria arrefeceu imediatamente quando viu a forma esguia, rápida e fluida se movendo sob a água. Os cabelos escurecidos pela água acompanhando as ondulações que os movimentos dos braços causavam, o biquíni vermelho contrastando vivamente com o fundo azul da piscina, a iluminação artificial delineando o corpo perfeito, levemente distorcido pelo movimento.
Morgan.
Ficou observando-a nadar, a mente divagando sobre o corpo dela, em pensamentos pouco...Adequados. Antes que tivesse tempo de se recuperar do efeito dos próprios pensamentos, ela estava saindo da água. Seria bem embaraçoso para ele se ela visse umas certas partes mais “animadinhas” do corpo dele. Pensando rápido, Nate fez a única coisa que poderia. Jogou-se na água.
Morgan assustou-se com o barulho repentino, mas logo reconheceu o corpo esguio. Sorrio pra ele, talvez um pouco mais entusiasticamente do que devia, quando surgiu a sua frente, balançando a cabeça para retirar o excesso d’agua.
- Porque eu não estou surpreso? Tinha que ser você pra ter a genial idéia de nadar no meio da madrugada.
- Olha quem fala... Me parece que você não está precisamente seco, Nathan. – apesar das palavras ferinas, não havia hostilidade em sua voz.
Nate deu de ombros e jogou água nela, fazendo-a rir e revidar o ataque.
- Ouvi barulho, vim ver quem era. E me pareceu uma boa idéia.- Ele deu de ombros novamente, casual. – Quer brincar?
- Brincar? – Ecoou Morgan, desconcertada.
- É, brincar. Tenho certeza que você conhece o termo. Se bem que duvido que [i]você[/i] já tenha feito isso alguma vez na vida, sem tão madura.
Morgan socou o ombro dele, de leve, aceitando o desafio.
- Eu já brinquei sim, senhor! Não me lembro quando exatamente, mas tenho certeza que em alguma parte remota da minha infância... – ela riu de novo da expressão de incredulidade no rosto dele. Uma expressão cada vez mais presente, no que se referia a ele, nos últimos tempos. – Brincar de que?
- Marco...Polo.
- E o que você pretende usar como venda? – não havia nada por perto, na visão dela, que pudesse servir. Mas Nate tinha outras idéias.
Aproximou-se calmamente dela, o sorriso presunçoso estampado no rosto, levando as mãos até a argola da parte superior do biquíni dela. Morgan olhou para as mãos dele assombrada, a respiração acelerando, fazendo-a ofegar de leve, as emoções se sucedendo alucinadas dentro de si. Nate abriu ainda mais o sorriso, desprendendo a faixa de tecido que unia as duas partes do biquíni dela, puxando-a habilmente da argola inferior.
- Isso serve? – ele perguntou, inocente, erguendo a tira molhada.
Morgan, não confiando na própria voz e lutando para controlar a respiração irregular, aquiesceu.
Nathan foi para trás dela, colocando a faixa úmida em contato com a face em chamas dela, fazendo-a perder o pouco auto-controle que tinha adquirido. Amarrou a faixa firmemente, e passou as mãos pelo tecido, mais acariciando o rosto dela que verificando a colocação. Sentiu a respiração dela acelerar ainda mais, o sangue correndo rápido nas veias do pescoço fino, sob seus dedos.
Afastou-se rapidamente, amaldiçoando as próprias reações. E tentando esquecer o som da respiração ofegante dela.
Morgan virou-se, tentando entrar na brincadeira e procurar por ele, o coração desacelerando lentamente. Ela podia jurar que ele havia parado de bater por um minuto. Ou dois.
Ouviu o ruído dele na água, mas ainda não conseguia se orientar.
- Marco?
- Pólo – respondeu Nate, do outro lado da piscina.
Ele lutava para afastar a visão do corpo dela vindo em sua direção, e da lembrança da sensação da pele dela sob seus dedos. Percebeu naquele instante que não podia resistir a ela. E percebeu também que daquela vez era diferente de todas as outras. Nathan era amigo de todas as suas “ex”, por ser tão despreocupado. Ligações permanentes não eram o seu forte. Mas mesmo sem saber porque, sentia que não seria fácil assim com ela. Sorriu novamente, um sorriso um tanto melancólico. Afinal, ela era Morgan. Nada era fácil com ela.
Acordou de suas divagações com ela quase conseguindo pegá-lo. Fez um rápido desvio para a esquerda, bem a tempo.
Observou-a dar voltas na água e lembrou daquela mesma tarde, em que ela pulava alegre dos braços de Guilherm no lago. Uma idéia que não lhe passara ainda pela cabeça o atingiu em cheio naquele instante. E se eles...Não. A mãe dela com certeza não deixaria a filha dormir com o namorado no mesmo quarto, assim. Mas havia Selena, e havia a possibilidade de ela não saber...Nunca saberia, também se não pergutasse.
-Marco?
Vamos descobrir, então, pensou consigo.
- Pólo. Sabe... eu nunca saquei qual era a sua, todo aquele silencio e tal...
- Porque, ela perguntou, indo em direção a voz dele, que saiu do caminho mais agilmente, agora que estava concentrado.
- Você sempre foi tão silenciosa , sempre me mandando aqueles seus olhares. Fazia eu me sentir inadequado, as vezes.
Morgan riu, seguindo a voz dele cada vez mais rápido.
- Você me intimidava, por isso eu era silenciosa com você. E bom, eu sou quieta naturalmente.
- Você parece ter ficado bem falante. Não que eu esteja reclamando, é claro.
- Uma das dezenas de coisas que Guilherm e Selena me ensinaram é que ficar calado muitas vezes é se anular. E como o exemplo deles mostra claramente, se anular nem sempre é uma posição agradável. Olhe pra nós, por exemplo. Nós nunca tínhamos conversado tanto, por que eu era calada e você simplesmente não pensava em mim. Marco?
- Pólo. Tem razão. Eu nunca tinha reparado como você pode ser surpreendente e interessante. Ou como seus olhos ficam mais claros quando você ri. – Morgan corou, e Nate decidiu mudar de assunto, já que a conversa estava chegando no ponto que ele queria. – como assim exemplo de Guilherm e Selena?
- Bem...Gui e Selena são primos em segundo grau e a família real não permite relacionamentos consangüíneos então...
- Espera. Família real?
- É.
- Quer dizer que você não estava brincando quando chamou ele de príncipe? – o tom de voz chocado passava pra ela uma vaga idéia da expressão dele.
- Hum... é. Vossas altezas reais austríacas, príncipe Guilherm e princesa Selena Von Burgh.
- E eles têm um relacionamento? – o alivio na voz dele deixou-a confusa e desejosa de poder ver o seu rosto.
- Eles resolveram se internar no colégio para poderem ficar juntos, longe dos pais. Mais ainda sim, é bem escondido. Ninguém sabe que eles estão aqui, ou a região já estaria infestada de repórteres. É uma coisa bem chata.
- Então quando você não veio pra casa primavera passada...
- Eu fui com eles pra Áustria. Os pais deles meio que acham que eu e Guilherm temos alguma coisa... e enquanto eles pensarem assim, não incomodam os dois com suspeitam. Por isso o pai dele me nomeou Gräfin, pra não ser plebéia se nós chegarmos a casar. – ela riu nesse ponto- é uma coisa meio maluca, eu sei. Só não deixa isso vazar pra imprensa internacional, faria um grande estrago. – a voz dela ficou seria novamente- Mas eu sei que você jamais faria isso. Marco?
- Pólo. É bom saber que você confia em mim. E a coisa dos óculos? Eu ainda não entendi a piada.
Nate estava profundamente aliviado. A idéia de [i]alguém[/i] achar que Guilherm e Morgan tinham alguma coisa não era agradável, mas era melhor que a incerteza. Ele viu que ela ficou um pouco embaraçada, ainda procurando por ele.
- É que eles foram presente da mãe de Selena, e Guilherm detestava-os. Ele já havia comprado outro, de qualquer forma. Eu estava usando só para provocá-lo.
- Ele comprou outro para você?
- Hum...é. – Morgan ficou apreensiva pelo tom de voz consternado.
- A moto? – ele perguntou, tentando controlar a voz.
- Também, é claro. Algum problema nisso? Alias, se você quer ficar me atirando acusações, eu prefiro estar olhando pra você, se não se importa.
Morgan levantou a mão em direção a venda improvisada, mas a voz veio ate ela novamente.
- Não estou te acusando - ainda, acrescentou mentalmente.- Só acho um tanto estranho você ficar recebendo presentes caros de alguém que não é nada seu.
- Ele é meu amigo, e os presentes são de Selena também. Não vejo porque recusar, se eles se sentem tão bem em me presentear. As pessoas com poucos amigos tendem a valorizá-los mais. Claro que eu não posso pedir para o rei da popularidade entender isso. Não é uma barganha, Nathan. Eles me dão presentes porque querem dar, e eu os aceito porque não há mal nenhum nisso. Simples assim. – ela havia parado de procurá-lo, e tremia violentamente de indignação.
Ora, vamos Nathan! Ele se repreendeu em pensamento. Você está deixando um ataque de ciúmes bobo estragar todo o momento.
Caminhou até ela, tirando ele mesmo a venda de seus olhos. Vendo-se livre, Morgan piscou uma ou duas vezes, olhando o rosto dele, na luz súbita.
- Desculpe. Eu não queria te perturbar. – ele disse num sussurro.
Morgan estremeceu de novo, dessa vez por outros motivos. Nate puxou-a de encontro ao peito, alisando os cabelos dela suavemente.
- Eu sinto tanto, não fique assim. Não há nada errado em...
- Não é...isso Nate. – a voz dela era quase inaudível.
- Então o que foi?
Morgan tentou se afastar dele, esconder a verdade que sabia estar visível em cada centímetro do rosto. Nathan levantou o rosto dela, impedindo-a de esconder-se, fazendo-a olhar diretamente nos olhos dele.
- O que é?
A onda de raiva tomou Morgan tão repentinamente que assustou aos dois.
- Você quer mesmo saber? – perguntou ela, a fúria em cada silaba. – eu fugi daqui, fugi de tudo, deixei minha mãe, April, tudo que eu amava, por que não podia mais viver na mesma casa que você. Não podia mais vê-lo ali, todos os dias, tão perto.
A confusão dolorida estampada no rosto dele arrefeceu imediatamente a fúria dela, afastando-a tão rápido quanto tinha chegado.
- Mas... o que eu fiz?
- Nasceu. E se tornou tão incrível com o tempo que foi impossível não me apaixonar por você – ela havia confessado o segredo tão bem guardado, tanto tempo empenhado em disfarçá-lo em vão. Mas ela suportaria qualquer coisa que tirasse aquela dor inexplicável dos olhos dele. – não dava mais pra mim suportar essa proximidade, sabendo que você nem ao menos me enxergava. Eu tinha que ir embora, antes que enlouquecesse. Então surgiu a bolsa pro colégio interno e eu...
- Espera. Você disse que me ama. É isso? – a dor foi sendo substituída por uma luz desconhecida, como se ele acabasse de ter tido a revelação do século.
- Se você faz tanta questão de ouvir, sim eu te amo. Mas não precisa se preocupar, amanha mesmo nós vamos pra outro lugar e...
Ela me ama. Ela. Me. Ama. O mundo podia ser mais perfeito? Nate achava que não. Por que ela o amava, e ele a amava de volta. Desde que ela entrara pela porta, aos onze anos, de mãos dadas com a mãe, os olhos sérios. Não sabia na época, mas acabava de descobrir que a amara desde o primeiro instante.
Nate a pegou nos braços, girando com ela, surpreendida, rindo feliz. Essa era a vez de Morgan ficar confusa. Ele não estava bravo?
Ele abraçou ainda mais forte, beijando-a. A surpresa logo deu lugar ao prazer na mente de Morgan. Foi um beijo longo e doce, melhor do que todas as mais delirantes fantasias dela. Se separam, e ele abraçou-a fortemente de novo.
- Diz de novo. – ele pediu, beijando os cabelos dela.
- Eu te amo. Só não sei por que você parece tão...contente.
Ele afastou-a de si, olhando incrédulo.
- Como assim não sabe? Você me diz a coisa mais maravilhosa que eu já ouvi e não queria que eu ficasse feliz? Eu estava aqui morrendo de medo de te perder pra um príncipe e ai você diz que me ama!
- Me perder? Quer dizer que você também...?
- É claro que eu te amo! Como poderia não amar, quando você me olha desse jeito?
Foi a vez de Morgan agarrá-lo.
A luz do sótão apagou-se nesse momento, quando Guilherm e Selena decidiram que era hora de ter a própria cota de romance naquele dia.