quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Marco... Polo!

Marco...Polo!
-Adeus querida, cuide-se. Nós voltamos outro dia.
Os três beijaram a cabeça dela, e ignorando os outros dois jovens presentes no quarto de hospital, saíram pela porta.
Nate ficou observando sua “irmã” de criação, os cabelos dourados ondulando, suavemente repousados sobre a camiseta preta e simples, a calça jeans definindo os quadris perfeitos, a jaqueta, também negra, apoiada no braço junto com o capacete prateado, se afastando junto com os outros dois que ele não conhecia.
- O que a sua irmã estava fazendo aqui, Nate? – perguntou Amanda, a voz emburrada. - ela não deveria estar no internato, onde é o lugar dela?
- Ela não é minha irmã. – Nate sempre detestara que os chamassem de “irmãos”. Morgan também sempre contestara a denominação. Não eram irmãos, apenas moravam na mesma casa. A mãe de Morgan se casara com o pai dele havia cinco anos, trazendo consigo a filha, um ano mais jovem que ele. Mas nunca se deram muito bem. Ele não entendia aquela garota silenciosa e concentrada. – E sim, ela devia.
- Eles vieram me visitar, não é incrível? Viajaram 150 km só pra vir me ver! – exclamou a garota deitada na cama de hospital, April, a única amiga que ele se lembrava que Morgan tinha.
- É mesmo uma marginal essa garota, fugindo do internato. – Amanda desdenhou. – E quem eram aqueles com ela?
- Qual é a sua, Amy? Veio fazer o que aqui? Estou internada á quase um mês, e você nunca veio. E se é pra ficar me aborrecendo, vá embora. Mas eu agradeço os chocolates Nate, obrigada. E pelas outras visitas também. É muito gentil.
- Sua ingrata! Eu perco meu precioso tempo vindo até aqui, e tudo que você faz é elogiar a esquisita da Morgan e me criticar! Francamente, não sei o que você vê nela.
- Ela não é mesquinha, egoísta e patética como você.
Vendo que Amanda fazia menção de responder a irmã, Nate interveio.
- Ela não pode se aborrecer, Amy. Controle-se. E eu também estou curioso, April. Quem eram aqueles? – perguntou para aquietá-las, e a si mesmo, enquanto ia até a janela do quarto de terceiro andar do Hospital Central de Millenium. Nessa hora, Morgan saia do prédio, em direção ao estacionamento, ladeada pelos jovens.
- São amigos de Morgan, do internato. E meus amigos também, mas nos conhecemos pessoalmente hoje.
- Como você pode se dizer amiga de pessoas que conheceu hoje?- Amanda, no seu eterno tom de desdém.
- Eu disse que nos conhecemos pessoalmente hoje. Mas falo com eles todos os dias, e acompanho tudo que fazem. São muito gentis tanto Guilherm quanto Selena.
Os três agora chegavam onde haviam grandes motos estacionadas. O garoto montou numa preta, seguido pela garota desconhecida, numa vermelha. Morgan ainda olhou em direção á janela, como se pudesse vê-lo observando-a. Então balançou a cabeça, e colocou o capacete, subindo na moto prateada e acelerando para fora do estacionamento.
- Como assim acompanha? Que historia é essa? – Amanda estava curiosa, afinal sempre sentira inveja de Morgan. Sempre a protegida de todos, sempre a preferida da irmã gêmea agora doente, sempre a mais bonita, mais discreta, mais inteligente. Ela fizera amizade com April logo que ela e a mãe se mudaram para a pequena localidade de Millenium, não demorando para a mãe dela se casar com o pai de Nate, o seu tão cobiçado Nate. Mas, misteriosamente, sempre houvera uma antipatia indefinida entre ela e Amy, que acabou por afastar April dela.
- Espera ai!- Exclamou Nate, virando-se para encarar April – Eles vieram até aqui de MOTO?! Mas Morgan nem sabia dirigir!
April riu. – O que você realmente sabe da vida de Morgan, Nate? Ela sabe sim, e tem muito tempo. E Amy, eles andam com uma câmera o tempo todo. É a forma que encontramos de nos manter conectadas, e me faz sentir menos só. E agora vá embora, que quero descansar.
Amy ia retrucar, aborrecida, mas Nate impediu-a.
- April tem razão, Amy. Ela teve um dia agitado, ao que parece. Tem mesmo que se poupar. E sinto muito April, mas Eillen vai ter que saber que a filha dela anda fugindo da escola.
- Nate, em que mundo você vive hein? Morgan vai passar a semana em casa, eles estão de férias, por que vão dedetizar a escola. E Guilherm e Selena vão ficar na sua casa. – preferiu não comentar que Morgan vinha vê-la quase todos os fins de semana desde que fora para o internato. Nem contar das noites de sábado em que fugia de casa com a amiga, antes de ser internada.
- O QUE?!- exclamou Amy, alarmada. Acreditava ter se livrado da incomoda presença de Morgan para sempre, já que ela não voltara mais para casa, desde que a mãe decidiu interná-la.
- Bem... é muito longe para Guilherm e Selena voltarem para casa, na Europa, e não podem ficar na escola. Então Eillen disse que eles podiam ficar na sua casa.
Nate achou melhor deixar pra digerir a informação depois, antes que Amy transtornasse ainda mais a irmã, decidiu tirá-la dali. Deixou-a em casa, sob protestos, e foi até a sua. Imediatamente notou as três motos estacionadas na garagem, mas a casa estava bem silenciosa. Eillen ainda estava trabalhando, na sua livraria, enquanto o pai dele, ainda estava na escola, onde era professor.
Entrou em casa, e subiu para o andar de cima, para o próprio quarto. Imaginava que Eillen ia colocar o tal garoto dormindo ali também, e a menina com Morgan. Mas não encontrou a mínima alteração no quarto, nenhuma mala ou mochila, nada. Então ouviu vozes diretamente acima de sua cabeça, no sótão.
Saiu de volta para o corredor, a inquietação que sentira desde que vira Morgan aumentando a cada passo. Não estivera com ela nos últimos oito meses. E ela estava diferente, apesar de ainda parecer silenciosa como sempre.
A escada do sótão estava abaixada, e subiu por ela, dando de cara com três camas de solteiro antigas, coladas uma na outra, com mochilas e roupas espalhadas pelo chão do velho sótão. Os três estavam sentados nas camas, um em cada, parecendo muito bem acomodados.
- Mas o que é isso, Morgan?! – exclamou ainda da escada.
- Onde espera que a gente durma, Nate? No meu quarto não tem espaço para três! – possivelmente a maior frase que ela lhe dissera em mais de um ano.
- Como assim três? Quem mais vai vir para cá?
- Hum, Nate? A convivência com Amanda está te afetando. Você costumava saber pelo menos contar. Um, dois, três – disse, apontando para si mesma e para os dois amigos. – entendeu?
- ELE vai dormir aqui em cima? Com vocês? Duas garotas? A sua mãe sabe disso?
Ela se levantou da cama, e caminhando até ele, parou exatamente um passo a sua frente, enfrentando seus olhos com uma singular expressão de fúria. Nate não se lembrava de ocasião alguma em que a enfurecera, e isso lhe dava uma estranha sensação de bem-estar.
- Você não é meu pai, Nathan. Não tem o direito de ficar fazendo perguntas, indignado, como se tivesse alguma preocupação comigo. E sim, a minha mãe sabe que Guilherm vai dormir aqui. Mas, como ela tem inteira confiança em mim e no cavalheirismo dele, e principalmente não tem essa mente pervertida que você aparenta, acha que está bom assim. Vá cuidar de com quem a bitolada da sua namoradinha anda dormindo, não eu.
Nate estranhamente não se ofendeu. Sorriu e disse:
- Essa é provavelmente a maior conversa que já tivemos, irmãzinha. Bem vinda de volta. – então virou as costas, e desceu. Não sem antes ouvi-la gritar lá de cima.
- EU NÃO SOU SUA IRMÃ!
Sorriu novamente, indo buscar algo para comer.
***
Morgan virou-se para Selena e Guilherm, sentados na cama.
- Ele mexe com você. – declarou Selena, caçoando dela.
Morgan bufou para ela, e se jogou na cama.
- Ele me irrita, é só isso. E mais essa agora, ele junto com Amanda. Era só o que faltava, para aquela coisa não sair mais daqui.
- Vamos lá, Morgan. Não pode ser tão ruim. Vamos nos divertir por aqui, tenho certeza.
Ela levantou a cabeça, olhando para Guilherm.
- Tenho uma idéia melhor. Por que não pegamos o seu jatinho e vamos, sei lá, esquiar nos Alpes? Que tal?
Ele cutucou-a com o pé.
- Não seja covarde, sim. E o jatinho está com o meu pai, em algum micro-pais asiático que eu não lembro o nome no momento. Logo, estamos presos aqui. E você não sabe esquiar.
- Que tal primeira classe para Paris?
- Morgan!
- Ta bem, ta bem! Foi só uma idéia, Guilherm. Mas se vossas altezas reais desejam tanto ver como um adolescente americano médio vive, e dormir num mini-sotão, quem sou eu para discordar.
Selena riu dos dois, e levantou-se, perguntando o que os adolescentes americanos médios comiam, já que estava faminta.
Desceram para a cozinha, achando Nate preparando um sanduíche.
- Em casa? Podia jurar que você estaria do outro lado da rua, se atracando, digo, namorando Amanda. – Morgan não conseguiu refrear a ironia, nem o instinto de provocá-lo.
Ele levantou as sobrancelhas para ela, mastigando. Morgan apenas revirou os olhos, ouvindo Guilherm pigarrear atrás de si.
- Não seja descortês, Morgan. – ele disse.
Ela revirou os olhos de novo, passando por Nate para abrir a geladeira.
- Está bem, príncipe Guilherm. Esse seu excesso de educação ainda vai lhe fazer mal.
- Céus, como você se tornou falante! Não tenho certeza, mas acho que ainda era mais simples quando você não falava. – reclamou Nate. – e pelo menos naquela época você tinha educação suficiente para me apresentar às pessoas.
- Eu não falava com você. E pretendo corrigir esse excesso de comunicação em breve. E Nate, esse são Guilherm e Selena, meus amigos, que vão ficar conosco essa semana. E esse é Nathan, enteado da minha mãe. E o cara com a pior namorada do mundo.
- Serio, você e Amy deviam tratar essa hostilidade. E ela não é minha namorada.
Morgan grunhiu, colocando sanduíches e suco na frente da bancada onde os amigos haviam sentado. De repente, Guilherm começou a falar em alemão, deixando Nate olhando desconcertado para ele. Selena pareceu concordar, também falando algo. E Morgan respondeu, deixando-o perplexo.
“Isso é mesmo só implicância com Amanda, Morgan? Por que você irritada demais para ser só isso”.
“Concordo. Você parece estar se importando demais.” Foi o complemento de Selena.
“Bobagens.” Morgan encerrou o assunto.
- Você fala alemão?! – perguntou Nate, abismado.
Ela concordou coma cabeça, mastigando.
- Foi meio que uma necessidade, convivendo com dois austríacos o tempo todo. Porque o espanto?
- Você é mesmo uma surpresa constante. Primeiro me aparece no hospital do nada, de moto, depois resolveu dormir com um garoto no mesmo quarto, e agora fala alemão. – Nate enumerou, desconcertado.
Selena riu, falando novamente em alemão.
“Fui só eu que achei que ele se importou mais com a parte de dormir com um garoto do que com o resto?”
Guilherm também riu, enquanto Morgan fechava a expressão.
- Bem Nate, não é de se surpreender que você não saiba muita coisa sobre mim. Nunca se deu ao trabalho de descobrir. – ela, no entanto, sabia tudo sobre ele. Desde a marca de chocolates preferida (MM’s) até o melhor amigo. Tudo.
- E você nunca se deu ao trabalho de me responder com nada além de monossílabos.
Ela grunhiu de novo, colocando o prato e o copo que sujara na pia. Não lavava louça há oito meses, e dava graças aos céus por isso.
Nate tentou ser simpático com as visitas, apesar de não gostar muito do garoto. Ou talvez fosse apenas implicância.
Quando terminou, voltou para junto dos amigos. Percebeu que Nate convidava-os para nadar no lago, e Guilherm e Selena pareciam ter amado a idéia. “Mais tempo junto dele”, pensou Morgan, dando um suspiro cansado.
- Esta bem. Vou colocar um maio.
- Você nunca se preocupou em usar maios quando morava aqui, Morgan. Alias, lembro de varias vezes em que você chegou em casa com a roupa toda ensopada.
- Foi um habito que adquiri na escola, Nathan. E acho melhor ir devagar com os hábitos de adolescentes médios típicos, senão Guilherm e Selena vão ter um choque de cultura.
Lançou mais um olhar fuzilante para ele, enquanto subia as escadas, seguida pelos amigos.
- Hum, Guilherm? Olha, eu posso aceitar que vocês durmam todos juntos e tal, mas esperar que vocês troquem de roupa junto é demais! – reclamou Nate.
Guilherm riu, e disse em alemão “Ele é bem superprotetor pra quem não é um irmão”.Mas respondeu a Nate em inglês, logo em seguida.
- Eu vou só pegar o calção na mala, e prometo que me troco no banheiro.
- Eu vou pegar a bola no meu quarto, então posso verificar por mim mesmo.
Morgan soltou um palavrão em alemão, sendo logo repreendida por Guilherm.
Aquela troca de palavras estrangeiras dava uma sensação ruim em Nate, por não poder entender o que eles diziam.
Ficou na porta do quarto até ver Guilherm entrando no banheiro do andar superior. Antes de fechar a porta, o outro sorriu para ele, como se aprovasse sua atitude.
Balançando a cabeça, Nate foi pegar a bola.
Logo descobriu que quando Morgan disse “maio”, ela queria dizer “mini-biquíni”. Olhou chocado para ela de novo, o biquíni azul escuro delineando o contorno dos seios, a barriga coberta apenas por uma faixa fina de tecido ligado á uma argola de metal, um calção minúsculo ocultando a parte inferior da roupa. Ela sorriu, sarcástica, para o olhar embevecido dele.
- É o apocalipse. – reclamou ele em voz alta.
Morgan riu, descendo as escadas para dar o braço á Guilherm. Nate resolveu esperar lá fora, aquela mania deles de ficar se encostando o enervava. Logo Selena também desceu. Morgan caminhou decidida em direção à moto vermelha.
- Você acha que vai de moto? Vestida assim? Nem pensar! – impediu-a Nate, abrindo a porta do próprio carro.
Morgan virou pra ele, uma resposta enraivecida pronta na ponta da língua. Mas perdeu-a quando viu a expressão dele. Parecia que a simples idéia de vê-la de biquíni na moto era demais pra ele. Ignorando a pontada súbita de prazer, e também o risinho sarcástico que viu nos lábios de Guilherm. Bufou, balançou a cabeça, e entrou no carro. Nate sentou-se no banco do motorista a seu lado, parecendo bem satisfeito. Muito satisfeito. Ela bufou de novo, olhando emburrada pela janela, enquanto Guilherm e Selena, no banco traseiro, batiam as mãos, parecendo curtir uma piada particular.
Acabou-se descobrindo, durante o trajeto, que Nate e Guilherm tinham varias coisas em comum, a começar pela musica que tocava no CD player, no momento. O que, é claro, só serviu pra Morgan bufar ainda mais alto. Eles discutiam os prós e contras de um livro de ficção que ambos haviam lido quando Guilherm de repente lembrou que Morgan tinha opinião firme sobre aquele em especial.
- Graffin, digo, Morgan acha ele surrealista demais. – Disse ele, distraído.
- É ficção! – Exclamou Nate, olhando pra ela exasperado enquanto estacionava. – é claro que é surreal.
- Mas ficção cientifica boa de verdade é irreal, mas dá total a sensação que poderia acontecer. Agora uma organização de anões... Francamente! O livro até que é bom, mas é fantástico, não cientifico. O sol brilhou no lago à frente dela, lembrando-a dos dias de verão que passara mergulhando ali com April, vendo Nate jogar vôlei na areia. Suspirou, colocando os óculos escuros. Selena deu um gritinho entusiasmado e sai correndo para a água, com Guilherm em seu encalço.
- Sabe que nós somos até bem parecidos... Isso é surpreendente. Mas você vem me surpreendendo com freqüência ultimamente.
Claro que ela sabia que eles eram parecidos. Uma boa parte dos próprios gostos ela devia á ele. Mas ao invés de responder isso, apenas sorriu, dando de ombros. Havia coisas que era melhor ele não saber.
- Então, que apelido é esse afinal? – ele perguntou, enquanto caminhavam lado á lado ate o deck. Havia poucas pessoas por ali, afinal ainda era um dia de semana. Guilherm e Selena riam, brincando na água como se nunca tivessem entrado nela antes. “Não com tanta liberdade” pensou Morgan consigo.
- Qual? – olhou desentendida pra ele.
- Você sabe, aquilo que o seu amigo te chamou no carro. – ele parecia... Desconcertado.
- Graffin?
Ele concordou com a cabeça.
- Oh. Isso. Bem... É uma palavra alemã. Quer dizer condessa. É uma espécie de brincadeira. Por quê?
- Apenas não conseguia me lembrar de nenhum apelido que você tivesse.
- Há muita coisa sobre mim que você não sabe – ela disse, ecoando sem querer as palavras de April ainda naquela tarde.
Então saiu correndo, de repente, se jogando com tudo no lago. Os óculos escuros esquecidos, jogados pra trás na areia. Ele os juntou, balançando a cabeça, notando que haviam quebrado uma lente. E notou que eram de uma marca bastante famosa. E bastante cara.
Nathan estranhou que a mãe de Morgan estivesse permitindo gastos supérfluos assim. E que Morgan, a sempre tão responsável Morgan, fosse tão descuidada. Caminhou até a ponta do deck, ainda vestido de Jens e camiseta, encontrando a saída de praia dela no caminho. Ficou observando-a nadar por algum tempo, até que Guilherm a pegou nos braços, rindo e girando com ela antes de atirá-la na água. Aquela brincadeira casual fez com que ele a chamasse instantaneamente. Qualquer outro cara teria se perguntado o porquê daquela reação. Qualquer cara, menos Nate. Porque Nate achava que as coisas aconteciam por que aconteciam, e não ficava muito tempo remoendo sobre elas. Simplesmente seguia seus instintos, e a menos que quisesse muito alguma coisa, deixava-se levar pela corrente. E se, no momento, desejava que Guilherm tirasse as mãos do corpo de Morgan, simplesmente faria com que isso acontecesse. Ela nadou até ele, muito bem por sinal. Afinal todas aquelas tardes dentro d’água enquanto as garotas como Amanda se bronzeavam ao sol como lagartos tinham de servir pra alguma coisa.
Ela segurou o deck com as duas mãos, içando-se para cima. A água escorrendo pelo corpo dela era, decidiu Nate, perturbadora. Mais alguma coisa pra se juntar as varias sensações daquele dia que ele não estava entendendo muito bem.
- Seus óculos quebraram. – ele disse engolindo em seco, pensando na primeira desculpa que lhe veio á cabeça para tirá-la da água. – sinto muito. Parecem ser caros.
Morgan tirou os das mãos dele, sorrindo.
- Gui! – ela gritou em direção á água, acenando com os óculos. – Quebraram!
O outro garoto riu, fazendo sinais para ela jogá-los para ele. Ela jogou, rindo, mas não conseguiu acertar, fazendo-os afundarem no lago.
- Acho que sua mãe não vai ficar tão feliz assim quando souber que você jogou centenas de dólares na água! – reclamou ele, incomodado pelo súbito desinteresse dela.
- Oh não – ela disse, torcendo o cabelo e voltando a olhar para ele. – Não foi ela que pagou por eles, então não creio que vá ficar assim tão magoada.
- Como assim não foi...Hei! – mas era tarde demais. Morgan fora se infiltrando por trás dele durante a conversa. E o atirara no lago. Ela se dobrava rindo, sobre o deck. Até que ele puxou-a pelo tornozelo, derrubando na água também!
Voltaram pra casa com Nate reclamando todo o tempo com Morgan por fazê-lo molhar o carro. Mas até ele tinha de admitir que havia sido imensamente divertido.
Eillen, mãe de Morgan esperava-os ansiosamente quando voltaram para casa. Ela abraçou a filha, em lagrimas. Morgan consolou a mãe dando tapinhas em seu ombro, enquanto os outros três continham o riso atrás dela.
- Mãe, olha o que o Nate ta fazendo no tapete!
As lagrimas foram quase que imediatamente substituídas por gritos de agonia sobre como Nathan ia arruinar o tapete com toda aquela água saindo dele. Foi praticamente enxotado em direção ao banheiro, o tempo todo lançando olhares furiosos para uma Morgan sorridente.
Aquele acabou sendo o jantar mais agradável que já havia acontecido naquela família. O pai de Nate ficou ainda mais surpreso que ele com a repentina simpatia falante de Morgan. Eillen forçou-os a irem cedo pra cama, alegando que fora um longo dia. Apesar de saber que ela estava certa, nem todos conseguiram dormir facilmente.
***
Nate ouviu claramente o som de alguém mergulhando na piscina, tirando-o do estupor das varias horas de insônia.Olhou o relógio luminoso ao lado da cama. 02:30 am.
Desceu as escadas xingando baixo, se perguntando quem estaria mergulhando àquela hora. Provavelmente um moleque qualquer, brincando de invadir as piscinas alheias.
Quando o vento frio da madrugada chegou a ele através da porta de vidro aberta, xingou novamente por estar usando somente o short do pijama. Caminhou furioso até a borda da piscina, mas sua fúria arrefeceu imediatamente quando viu a forma esguia, rápida e fluida se movendo sob a água. Os cabelos escurecidos pela água acompanhando as ondulações que os movimentos dos braços causavam, o biquíni vermelho contrastando vivamente com o fundo azul da piscina, a iluminação artificial delineando o corpo perfeito, levemente distorcido pelo movimento.
Morgan.
Ficou observando-a nadar, a mente divagando sobre o corpo dela, em pensamentos pouco...Adequados. Antes que tivesse tempo de se recuperar do efeito dos próprios pensamentos, ela estava saindo da água. Seria bem embaraçoso para ele se ela visse umas certas partes mais “animadinhas” do corpo dele. Pensando rápido, Nate fez a única coisa que poderia. Jogou-se na água.
Morgan assustou-se com o barulho repentino, mas logo reconheceu o corpo esguio. Sorrio pra ele, talvez um pouco mais entusiasticamente do que devia, quando surgiu a sua frente, balançando a cabeça para retirar o excesso d’agua.
- Porque eu não estou surpreso? Tinha que ser você pra ter a genial idéia de nadar no meio da madrugada.
- Olha quem fala... Me parece que você não está precisamente seco, Nathan. – apesar das palavras ferinas, não havia hostilidade em sua voz.
Nate deu de ombros e jogou água nela, fazendo-a rir e revidar o ataque.
- Ouvi barulho, vim ver quem era. E me pareceu uma boa idéia.- Ele deu de ombros novamente, casual. – Quer brincar?
- Brincar? – Ecoou Morgan, desconcertada.
- É, brincar. Tenho certeza que você conhece o termo. Se bem que duvido que [i]você[/i] já tenha feito isso alguma vez na vida, sem tão madura.
Morgan socou o ombro dele, de leve, aceitando o desafio.
- Eu já brinquei sim, senhor! Não me lembro quando exatamente, mas tenho certeza que em alguma parte remota da minha infância... – ela riu de novo da expressão de incredulidade no rosto dele. Uma expressão cada vez mais presente, no que se referia a ele, nos últimos tempos. – Brincar de que?
- Marco...Polo.
- E o que você pretende usar como venda? – não havia nada por perto, na visão dela, que pudesse servir. Mas Nate tinha outras idéias.
Aproximou-se calmamente dela, o sorriso presunçoso estampado no rosto, levando as mãos até a argola da parte superior do biquíni dela. Morgan olhou para as mãos dele assombrada, a respiração acelerando, fazendo-a ofegar de leve, as emoções se sucedendo alucinadas dentro de si. Nate abriu ainda mais o sorriso, desprendendo a faixa de tecido que unia as duas partes do biquíni dela, puxando-a habilmente da argola inferior.
- Isso serve? – ele perguntou, inocente, erguendo a tira molhada.
Morgan, não confiando na própria voz e lutando para controlar a respiração irregular, aquiesceu.
Nathan foi para trás dela, colocando a faixa úmida em contato com a face em chamas dela, fazendo-a perder o pouco auto-controle que tinha adquirido. Amarrou a faixa firmemente, e passou as mãos pelo tecido, mais acariciando o rosto dela que verificando a colocação. Sentiu a respiração dela acelerar ainda mais, o sangue correndo rápido nas veias do pescoço fino, sob seus dedos.
Afastou-se rapidamente, amaldiçoando as próprias reações. E tentando esquecer o som da respiração ofegante dela.
Morgan virou-se, tentando entrar na brincadeira e procurar por ele, o coração desacelerando lentamente. Ela podia jurar que ele havia parado de bater por um minuto. Ou dois.
Ouviu o ruído dele na água, mas ainda não conseguia se orientar.
- Marco?
- Pólo – respondeu Nate, do outro lado da piscina.
Ele lutava para afastar a visão do corpo dela vindo em sua direção, e da lembrança da sensação da pele dela sob seus dedos. Percebeu naquele instante que não podia resistir a ela. E percebeu também que daquela vez era diferente de todas as outras. Nathan era amigo de todas as suas “ex”, por ser tão despreocupado. Ligações permanentes não eram o seu forte. Mas mesmo sem saber porque, sentia que não seria fácil assim com ela. Sorriu novamente, um sorriso um tanto melancólico. Afinal, ela era Morgan. Nada era fácil com ela.
Acordou de suas divagações com ela quase conseguindo pegá-lo. Fez um rápido desvio para a esquerda, bem a tempo.
Observou-a dar voltas na água e lembrou daquela mesma tarde, em que ela pulava alegre dos braços de Guilherm no lago. Uma idéia que não lhe passara ainda pela cabeça o atingiu em cheio naquele instante. E se eles...Não. A mãe dela com certeza não deixaria a filha dormir com o namorado no mesmo quarto, assim. Mas havia Selena, e havia a possibilidade de ela não saber...Nunca saberia, também se não pergutasse.
-Marco?
Vamos descobrir, então, pensou consigo.
- Pólo. Sabe... eu nunca saquei qual era a sua, todo aquele silencio e tal...
- Porque, ela perguntou, indo em direção a voz dele, que saiu do caminho mais agilmente, agora que estava concentrado.
- Você sempre foi tão silenciosa , sempre me mandando aqueles seus olhares. Fazia eu me sentir inadequado, as vezes.
Morgan riu, seguindo a voz dele cada vez mais rápido.
- Você me intimidava, por isso eu era silenciosa com você. E bom, eu sou quieta naturalmente.
- Você parece ter ficado bem falante. Não que eu esteja reclamando, é claro.
- Uma das dezenas de coisas que Guilherm e Selena me ensinaram é que ficar calado muitas vezes é se anular. E como o exemplo deles mostra claramente, se anular nem sempre é uma posição agradável. Olhe pra nós, por exemplo. Nós nunca tínhamos conversado tanto, por que eu era calada e você simplesmente não pensava em mim. Marco?
- Pólo. Tem razão. Eu nunca tinha reparado como você pode ser surpreendente e interessante. Ou como seus olhos ficam mais claros quando você ri. – Morgan corou, e Nate decidiu mudar de assunto, já que a conversa estava chegando no ponto que ele queria. – como assim exemplo de Guilherm e Selena?
- Bem...Gui e Selena são primos em segundo grau e a família real não permite relacionamentos consangüíneos então...
- Espera. Família real?
- É.
- Quer dizer que você não estava brincando quando chamou ele de príncipe? – o tom de voz chocado passava pra ela uma vaga idéia da expressão dele.
- Hum... é. Vossas altezas reais austríacas, príncipe Guilherm e princesa Selena Von Burgh.
- E eles têm um relacionamento? – o alivio na voz dele deixou-a confusa e desejosa de poder ver o seu rosto.
- Eles resolveram se internar no colégio para poderem ficar juntos, longe dos pais. Mais ainda sim, é bem escondido. Ninguém sabe que eles estão aqui, ou a região já estaria infestada de repórteres. É uma coisa bem chata.
- Então quando você não veio pra casa primavera passada...
- Eu fui com eles pra Áustria. Os pais deles meio que acham que eu e Guilherm temos alguma coisa... e enquanto eles pensarem assim, não incomodam os dois com suspeitam. Por isso o pai dele me nomeou Gräfin, pra não ser plebéia se nós chegarmos a casar. – ela riu nesse ponto- é uma coisa meio maluca, eu sei. Só não deixa isso vazar pra imprensa internacional, faria um grande estrago. – a voz dela ficou seria novamente- Mas eu sei que você jamais faria isso. Marco?
- Pólo. É bom saber que você confia em mim. E a coisa dos óculos? Eu ainda não entendi a piada.
Nate estava profundamente aliviado. A idéia de [i]alguém[/i] achar que Guilherm e Morgan tinham alguma coisa não era agradável, mas era melhor que a incerteza. Ele viu que ela ficou um pouco embaraçada, ainda procurando por ele.
- É que eles foram presente da mãe de Selena, e Guilherm detestava-os. Ele já havia comprado outro, de qualquer forma. Eu estava usando só para provocá-lo.
- Ele comprou outro para você?
- Hum...é. – Morgan ficou apreensiva pelo tom de voz consternado.
- A moto? – ele perguntou, tentando controlar a voz.
- Também, é claro. Algum problema nisso? Alias, se você quer ficar me atirando acusações, eu prefiro estar olhando pra você, se não se importa.
Morgan levantou a mão em direção a venda improvisada, mas a voz veio ate ela novamente.
- Não estou te acusando - ainda, acrescentou mentalmente.- Só acho um tanto estranho você ficar recebendo presentes caros de alguém que não é nada seu.
- Ele é meu amigo, e os presentes são de Selena também. Não vejo porque recusar, se eles se sentem tão bem em me presentear. As pessoas com poucos amigos tendem a valorizá-los mais. Claro que eu não posso pedir para o rei da popularidade entender isso. Não é uma barganha, Nathan. Eles me dão presentes porque querem dar, e eu os aceito porque não há mal nenhum nisso. Simples assim. – ela havia parado de procurá-lo, e tremia violentamente de indignação.
Ora, vamos Nathan! Ele se repreendeu em pensamento. Você está deixando um ataque de ciúmes bobo estragar todo o momento.
Caminhou até ela, tirando ele mesmo a venda de seus olhos. Vendo-se livre, Morgan piscou uma ou duas vezes, olhando o rosto dele, na luz súbita.
- Desculpe. Eu não queria te perturbar. – ele disse num sussurro.
Morgan estremeceu de novo, dessa vez por outros motivos. Nate puxou-a de encontro ao peito, alisando os cabelos dela suavemente.
- Eu sinto tanto, não fique assim. Não há nada errado em...
- Não é...isso Nate. – a voz dela era quase inaudível.
- Então o que foi?
Morgan tentou se afastar dele, esconder a verdade que sabia estar visível em cada centímetro do rosto. Nathan levantou o rosto dela, impedindo-a de esconder-se, fazendo-a olhar diretamente nos olhos dele.
- O que é?
A onda de raiva tomou Morgan tão repentinamente que assustou aos dois.
- Você quer mesmo saber? – perguntou ela, a fúria em cada silaba. – eu fugi daqui, fugi de tudo, deixei minha mãe, April, tudo que eu amava, por que não podia mais viver na mesma casa que você. Não podia mais vê-lo ali, todos os dias, tão perto.
A confusão dolorida estampada no rosto dele arrefeceu imediatamente a fúria dela, afastando-a tão rápido quanto tinha chegado.
- Mas... o que eu fiz?
- Nasceu. E se tornou tão incrível com o tempo que foi impossível não me apaixonar por você – ela havia confessado o segredo tão bem guardado, tanto tempo empenhado em disfarçá-lo em vão. Mas ela suportaria qualquer coisa que tirasse aquela dor inexplicável dos olhos dele. – não dava mais pra mim suportar essa proximidade, sabendo que você nem ao menos me enxergava. Eu tinha que ir embora, antes que enlouquecesse. Então surgiu a bolsa pro colégio interno e eu...
- Espera. Você disse que me ama. É isso? – a dor foi sendo substituída por uma luz desconhecida, como se ele acabasse de ter tido a revelação do século.
- Se você faz tanta questão de ouvir, sim eu te amo. Mas não precisa se preocupar, amanha mesmo nós vamos pra outro lugar e...
Ela me ama. Ela. Me. Ama. O mundo podia ser mais perfeito? Nate achava que não. Por que ela o amava, e ele a amava de volta. Desde que ela entrara pela porta, aos onze anos, de mãos dadas com a mãe, os olhos sérios. Não sabia na época, mas acabava de descobrir que a amara desde o primeiro instante.
Nate a pegou nos braços, girando com ela, surpreendida, rindo feliz. Essa era a vez de Morgan ficar confusa. Ele não estava bravo?
Ele abraçou ainda mais forte, beijando-a. A surpresa logo deu lugar ao prazer na mente de Morgan. Foi um beijo longo e doce, melhor do que todas as mais delirantes fantasias dela. Se separam, e ele abraçou-a fortemente de novo.
- Diz de novo. – ele pediu, beijando os cabelos dela.
- Eu te amo. Só não sei por que você parece tão...contente.
Ele afastou-a de si, olhando incrédulo.
- Como assim não sabe? Você me diz a coisa mais maravilhosa que eu já ouvi e não queria que eu ficasse feliz? Eu estava aqui morrendo de medo de te perder pra um príncipe e ai você diz que me ama!
- Me perder? Quer dizer que você também...?
- É claro que eu te amo! Como poderia não amar, quando você me olha desse jeito?
Foi a vez de Morgan agarrá-lo.
A luz do sótão apagou-se nesse momento, quando Guilherm e Selena decidiram que era hora de ter a própria cota de romance naquele dia.

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